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Trabalho, saúde e educação são prioridades apontadas pelas juventudes periféricas, segundo pesquisa apoiada pelo GOYN SP

A pandemia da Covid-19 deixou uma herança com muitos desafios e diferentes aprendizados. Para as juventudes da capital da maior metrópole do país não foi diferente, como mostram os resultados do Caderno São Paulo, um recorte da pesquisa “Juventudes e pandemia: e agora?”.

O estudo foi coordenado pelo Atlas das Juventudes em parceria com o GOYN SP, Rede Conhecimento Social e Prefeitura de São Paulo (acesse a íntegra da pesquisa Brasil aqui).
Dentre as evidências encontradas, está a importância de cursos de qualificação profissional como uma das soluções apontadas por 29% das(os) jovens entrevistadas(os) para lidar com os efeitos negativos da pandemia no mercado de trabalho. Aliás, essa foi uma das prioridades de 73% das(os) respondentes durante a fase do distanciamento social: buscar cursos on-line para se qualificarem.

Outro resultado interessante, apontado pela pesquisa, é o otimismo com as novas formas de trabalho: 82% acreditam nessa perspectiva e 45% disseram que, se pudessem, gostariam de empreender. Trabalhar sem estar presencialmente nos espaços corporativos e implementação de horários flexíveis são duas práticas que, segundo as(os) respondentes, vieram para ficar no pós-pandemia e mostram que a produtividade é possível sem a presença física (68% das/os entrevistadas/os) e sem horários rígidos (62% das/os entrevistadas/os).

No que diz respeito à atuação nos territórios onde vivem, 24% das(os) jovens afirmaram que iniciativas para gerar oportunidades de incentivo, financiamento e fomento de projetos realizados pelas juventudes podem atenuar os efeitos negativos da pandemia.

Neste quadro, estão cinco outras ações citadas pelas(os) entrevistadas(os) que devem ser foco de trabalho de redes e coalizões como o GOYN SP para apoiar o desenvolvimento e a inclusão produtiva das juventudes periféricas.

Ampliação de empregos formais (18%)Projetos de formação e desenvolvimento de competências empreendedoras (16%) Políticas para inclusão produtiva de grupos minorizados (15%)Políticas de renda emergencial para famílias em situação de vulnerabilidade (15%)Criação de espaços e redes de apoio para autônomos e empreendedores (12%)

“No GOYN SP trabalhamos com base em dados e evidências para, coletivamente, desenhar soluções que possam apoiar as juventudes na sua jornada profissional. Para isso, temos a participação central de jovens-potência. A pesquisa é uma importante ferramenta de escuta e de reflexão para que possamos avançar com nosso propósito de promover a inclusão produtiva de 100 mil jovens-potência da cidade, até 2030”, explicou Nayara Bazzoli, líder do GOYN SP.

Saúde e educação caminham juntas

A pesquisa também trouxe dados sobre a saúde emocional das juventudes, com resultados que merecem especial atenção: 59% das(os) respondentes afirmaram que foram afetadas(os) pela ansiedade e, por conta disso, 76% estão em busca de trabalhos em que seja possível conciliar a vida profissional e pessoal.

Uma das soluções apontadas por 47% das(os) entrevistadas(os) para mitigar os efeitos da pandemia no seu bem-estar integral é a implementação de atendimento psicológico especializado nessa etapa da vida, na saúde pública, e 38% sugerem que esse acompanhamento seja feito nas escolas públicas.

Com relação à educação, os dados preocupam também, já que 49% das(os) estudantes afirmaram ter parado de estudar durante a pandemia. Embora tenham voltado à escola após esse período, 63% disseram sentir que estão defasadas(os) na aprendizagem. Já 54% consideram que conteúdos que preparem para o mercado de trabalho são mais significativos para o momento, sendo que 63% se sentem otimistas com a conexão educação e trabalho.

Participação política é vista com restrições

A pandemia despertou, em boa parte das(os) jovens, um olhar para o sentido da vida pública, com foco na recuperação econômica das pessoas e, consequentemente, do país. No que diz respeito ao sistema de governo, 86% das(os) entrevistadas(os) defendem a democracia. Por outro lado, apenas 3% disseram pretender se candidatar a cargos políticos futuramente o que, de certa forma, reforça um outro dado apurado pela pesquisa: 73% das(os) jovens não acreditam no comprometimento dos atuais políticos com os interesses e as necessidades da sociedade. Por outro lado, 56% se sentem mais otimistas em relação aos espaços de participação ampliados na fase da pós-pandemia.

Quando perguntados o que fariam se fossem políticos hoje, as(os) respondentes priorizaram ações para fortalecer a educação (33%), combater a fome (30%) e recuperar a economia (30%).

A pesquisa escutou 1.988 jovens de 15 a 29 anos, residentes na cidade de São Paulo, nos meses de julho e agosto de 2022. Desse grupo, 61% estavam estudando e 83% trabalhando (a maioria como jovem aprendiz).

Lançamento da pesquisa

O lançamento do Caderno São Paulo da pesquisa “Juventudes e pandemia: e agora?” foi realizado no dia 3 de novembro, no Centro Cultural São Paulo, durante o 3º Evento Anual do GOYN SP, coalizão articulada pela UWB para promover a inclusão produtiva das juventudes das periferias da cidade. O encontro reuniu mais de 100 pessoas dos diferentes setores sociais.

Na ocasião, Marcos Barão, presidente Conselho Nacional da Juventude do Brasil (Conjuve), apresentou os principais dados e mediou o painel para falar sobre perspectivas e ações que respondam aos desafios trazidos pelas evidências. Participaram dessa mesa Carla Francischette, do time do GOYN SP; Diogo Jamra Tsukumo, Gerente de Articulação Institucional do Itaú Educação e Trabalho; Mariana Resegue, coordenadora geral do ‘Atlas das Juventudes’ e coordenadora estratégica do Em Movimento’; Ramirez Augusto Lopes Tosta, coordenador de Políticas para a Juventude, da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Humano e Cidadania e o Matheus Gastão, jovem que participou do grupo da pesquisa, morador de Cidade Tiradentes, graduando em Geografia pela Universidade de São Paulo.

O GOYN SP conta com 80 organizações em sua rede e com um Comitê Gestor formado pelas instituições Accenture, The Aspen Institute, CRS, GDI, Prudential, YouthBuild, Em Movimento, Fiesp/Ciesp, Fundação Arymax, Fundação Tide Setubal, Instituto Coca-Cola, Itaú Educação e Trabalho, Pepsico e Vocação.
Para saber mais e fazer parte desse movimento, acesse: https://goynsp.org/

A Equidade Racial, o papel das Organizações Backbone, o Investimento Social Privado e o engajamento de grupos minorizados foram temas do 2º Dia do Fórum Latino-Americano De Impacto Coletivo

Confira, nesta matéria, a síntese dos painéis do dia 20, com as principais experiências e reflexões sobre a metodologia impacto coletivo como estratégia para ações sistêmicas e sustentáveis que trazem a equidade racial como componente central para garantir eficiência.

Em parceria com a UW da Colômbia e UW do México, e curadoria de conteúdos da FSG, a UWB realizou o Fórum Latino-Americano de Impacto Coletivo, dias 19 e 20 de outubro, reunindo cerca de 400 pessoas. O objetivo do evento é promover o acesso a conceitos e práticas de diferentes países para inspirar instituições da América Latina no enfrentamento de desafios socioambientais complexos, utilizando a metodologia.

GOYN: Inovação na inclusão produtiva de jovens potência. Ter o público-alvo de iniciativas do impacto coletivo como protagonistas

O primeiro painel do dia apresentou o movimento internacional Global Opportunity Youth Network (GOYN), na voz de jovens-potência, protagonistas da iniciativa em suas cidades, e coordenadores locais.

A conversa foi introduzida por Joel Miranda, diretor senior de desenvolvimento e lideranças do  Aspen Institute, organização que idealizou o GOYN. Ele compartilhou dados sobre a situação das juventudes. “Temos 1.8 bilhão de jovens no mundo e 90% deles vivem em países com economias em desenvolvimento. Deste 1.8 bilhão, 380 milhões de jovens não estão conectados com a educação e o trabalho formais; 70 bilhões estão desempregados, sendo que três dentre quatro jovens são mulheres. Os empregos formais estão sob risco, porque milhares de empresas foram impactadas negativamente pela pandemia da Covid-19”, alertou Joel.

Segundo ele, o GOYN trabalha com organizações-âncora para criar oportunidades a jovens de 15 a 29 anos que estão na escola ou procurando emprego ou que estão fora do mercado de trabalho.  Para os próximos 10 anos, a meta é criar uma mudança nesse cenário mundial que possa impactar 350 mil jovens e melhorar a vida de milhões delas e deles, até 2030. O GOYN atua por meio de parcerias com jovens, comunidades, empresas, organizações públicas e privadas e, atualmente, está em nove cidades de sete países na América Latina, África e Índia, tendo conectado mais de 100 mil jovens com oportunidades de desenvolvimento.

“Investimos na formação para que jovens se organizem e levem suas vozes aos espaços mais necessários. Apoiamos diálogos para a criação de soluções e conectamos líderes do GOYN por meio de uma rede de parceiros institucionais. Tudo isso se baseia no pilar da equidade, tendo as juventudes como cocriadoras das soluções e estratégias”, reforçou Joel, que convidou membros do GOYN para contarem suas experiências em seus países.

Maria Paula Macías, coordenadora de Impacto Coletivo no GOYN Colômbia, mostrou a importância de se vencer barreiras e pré-julgamentos sobre jovens, vistos com certa reserva pelos adultos, para a construção coletiva de soluções que os preparem para liderar suas comunidades. “Em Bogotá, juntamos adultos que muitas vezes têm medo de se unir aos jovens em todos os processos. É essencial que sentem todos à mesa, porque, se não fizermos isso, não saberemos exatamente quais são as demandas das juventudes. Dentre as ações que estamos realizando coletivamente, iniciamos um projeto com a Fundação Corona de um laboratório de inovação social com curso de oito meses para jovens desenvolverem suas habilidades de liderança, de advocacy e de comunicação”, explicou.

Sobre a atuação no México, Jaqueline Garcia Cordero, coordenadora de liderança no GOYN México, conta que a cocriação é a chave do sucesso. “Estamos trabalhando em uma ferramenta que chamamos de Toolkit, um fundo que pretende financiar projetos impulsionados por jovens para desenvolverem suas comunidades. Contamos com diferentes comunidades da rede global, em São Paulo, Bogotá e nas comunidades da Índia, tendo como membros jovens do Núcleo Jovem e juventudes vinculadas a outras organizações que integram a rede. A ferramenta ajuda a elaborar projetos e integra diferentes perspectivas. É muito interessante perceber a multiculturalidade dentro desse contexto, colocando todos juntos para pensar soluções. A ferramenta é acessível para todes, inclusive para jovens com deficiência visual e auditiva”, contou.

Nilton Clécio, coordenador de território no  GOYN São Paulo, e Jonathan Sales, do Núcleo Jovem, compartilharam as experiências do movimento em São Paulo, onde o GOYN é articulado pela UWB. “Temos 50 Embaixadores do GOYN SP, que passaram por um processo de formação com parceiros técnicos para trabalhar o autoconhecimento, suas características e habilidades, fortalecer a comunicação para dialogar com outros jovens e pessoas de seus territórios e com organizações importantes à causa, tendo conhecimento também da máquina pública. Eles ‘vestem a camisa’”, explicou Nilton.

Outra ação em São Paulo é o Micro Fundo. “A gente atua com jovens de coletivos das zonas sul e leste, onde está o maior número de jovens-potência, que, de fato, precisam de apoio. E o nosso apoio aos coletivos é recurso financeiro e formação. Essas e esses jovens também desenvolveram uma rede de contatos, habilidades de empreendedorismo e de gestão de projetos para colocar suas iniciativas de pé e funcionando”, contou Jonathan.

Para Joel, se queremos avançar com a inclusão produtiva das juventudes, é preciso praticar o diálogo e a escuta. “Faça perguntas, aprenda com os jovens e como eles querem se envolver, crescer e se desenvolver. É nosso objetivo e nossa missão como adultos ajudá-los nisso”, finalizou.

Impacto Coletivo como uma das tendências do investimento social privado

Mediado por Richard Sippli, diretor de operações e relações institucionais no Movimento Bem Maior, o painel reuniu duas grandes organizações: Fundación Rafael Meza Ayau (FRMA), com Carla Meyer de Dumont, diretora-executiva, e Fundação Corona, representada por Natalia Salazar Sarmiento, coordenadora técnica de projetos de educação e emprego, que compartilharem suas experiências relacionadas aos investimentos do ecossistema filantrópico. 

Carla trouxe uma reflexão sobre a sustentabilidade de um modelo de ação com base no impacto coletivo. Para os projetos serem perenes, “criamos comitês de sustentabilidade e um comitê principal, representado pelos diferentes atores que participam da execução da iniciativa, durante todo o tempo de implementação. Os atores locais participam e existe uma liderança de base, garantindo que todas as ações feitas no projeto possam continuar. A sustentabilidade é possível com engajamento constante dos atores locais, que já conhecem o projeto e são embaixadores do conceito de impacto coletivo. O comitê tem a responsabilidade de continuar solicitando fundos, executando ações, envolvendo o governo, a cooperação da sociedade civil, igrejas porque isso é fundamental para abordar a questão da sustentabilidade em projetos de impacto coletivo”.

Ela conta que a fundação tem um eixo de formação social cujo papel é fortalecer os parceiros das localidades onde os projetos são implementados para que se se sintam empoderados e percebam que podem levar adiante suas ideias e soluções.

Carla ressaltou a importância de medir o impacto. “Mensurar é importante e acho que essa é uma fraqueza no nosso setor social em El Salvador. Estamos procurando fazer isso e tem sido um desafio alinhar os requisitos de métricas com todas as ONGs, mas é um processo que fortalece cada organização, a qualidade de tudo o que fazemos e que nos ajuda a identificar os líderes para cada assunto”.

Natalia ressaltou que nos projetos desenvolvidos pela Fundação, o investimento em monitoramento e avaliação da aprendizagem são fundamentais para a tomada de decisões, o que permite melhorar a médio prazo o desenho das iniciativas e os resultados.  Outra reflexão levantada por Natália é sobre a importância de as organizações abrirem suas mentes. “Normalmente, o público-alvo está no centro da avaliação, são as pessoas que nos motivam a levar adiante todas essas ações, mas primeiro devemos transcender a visão tradicional de monitoramento de projeto, entendendo que estamos tratando de processos mais complexos de longo prazo, o que requer investimentos, riscos, fracassos e avanços”.

Para exemplificar suas ponderações sobre investimentos versus riscos e impasses que precisam ser pensados e testados, ela usou o GOYN, movimento internacional que a Fundação Corona apoia em Bogotá, voltado a inclusão produtiva de jovens em situação de vulnerabilidade socioeconômica. “Temos três questões importantes quando discutimos essa iniciativa. A primeira é como desenhar uma colaboração que realmente permita a articulação de ações que reforcem as trocas entre os diferentes atores do sistema. A segunda questão é como conseguir identificar rotas mais inclusivas voltadas a setores particulares da economia que ofereçam oportunidades para jovens. Por fim, como conquistar a sustentabilidade financeira para a manutenção do projeto.”

O papel das organizações que atuam como backbone em projetos de impacto coletivo

Jennifer Splansky Juster, diretora-executiva da FSG,  e diretora do Colletive Impact Forum, foi a responsável por mediar este painel e fazer uma introdução para conceituar o papel desses atores no contexto de ações pautadas pela metodologia impacto coletivo.

As instituições backbone têm o papel de guiar a visão e a estratégia da ação colaborativa. Elas dão apoio ao trabalho e às atividades que estão acontecendo no campo. Estabelecem práticas de medição compartilhada para coletar e reunir dados com o objetivo de acompanhar o progresso e mostrar para as organizações e a comunidade o que está acontecendo. Também influenciam políticas públicas e políticas internas das organizações. Elas mobilizam recursos para realizar o próprio trabalho e para apoiar as iniciativas realizadas com outras organizações. “É importante ressaltar que as organizações backbone devem garantir que os membros da comunidade realmente estejam envolvidos, não só informando o que está acontecendo, mas cocriando todo o trabalho”, explicou Jennifer.

Com relação aos dados, eles são essenciais na tomada de decisões e nos ajustes de percurso das ações de impacto coletivo, como afirmou Adrienne Abbatte, diretora-executiva da Staten Island Partnership For Community Wellness, sediada nos EUA, que trouxe para o diálogo a experiência do projeto Tackling Youth Substance Abuse (TYSA). A iniciativa é uma coalizão para garantir saúde física e mental à população de Staten Island. “O projeto existe há mais de 10 anos, criado para atender ao crescente risco de morte por doenças crônicas entre os adultos. Fomos evoluindo conforme a percepção e dados trazidos pelo monitoramento. Em 2019, vimos que a fragilidade da saúde mental estava relacionada com as doenças, por isso, incluímos esse aspecto no projeto. Identificamos que esse problema impactava populações diferentes de formas diferentes, por exemplo, os adultos negros tinham mais tendência a desenvolver doenças crônicas. Começamos, então, a focar nesses públicos. Isso nos levou a focar no antirracismo, o que exigiu muita capacitação e envolvimento de parceiros. Temos agora um grupo de jovens dedicados à causa, grupos de pessoas LGBTQIA+. Tudo isso foi nos conduzindo a novas abordagens não só no TYSA, mas em outros programas que implementamos”, explicou.

Envelhecer com dignidade é o foco de um dos projetos desenvolvidos pela San Antonio Area Foundation, sediada no Texas (EUA), que reúne mais de 500 fundos financeiros e mais de 1 bilhão de dólares em ativos. Patricia Mejia, vice-presidente de envolvimento da comunidade e impacto, contou que, em San Antônio, 75% da população é formada por latinos e 7% são afrodescendentes. Há muita disparidade na comunidade e, com base em conversas e pesquisas, resolveram investir em ações de impacto coletivo para melhorar as condições de pessoas na terceira idade, para que possam envelhecer com dignidade e segurança.  O trabalho começou em 2016 e houve muito progresso desde então. “Temos mais de 40 organizações com mais de 100 pessoas desse público-alvo ajudando a gente a pensar em soluções para suas necessidades, desde mobilidade à moradia adequada, com acessibilidade. Nossas ações buscam influenciar políticas públicas”, explicou.

O case Primero Lo Primero”, programa para promover o desenvolvimento de crianças colombianas na primeira infância, que usa a metodologia impacto coletivo, foi apresentado por Cristina Gutierrez De Piñeres, CEO da UW Colômbia. Ela contou que, em um primeiro momento, um dos parceiros assumiu a função de backbone, mas, com a experiência, resolveram que era melhor delegar essa função a um time.

“Trouxemos a equidade no trabalho com a primeira infância levando um olhar sistêmico na atuação direta com diferentes atores, ou seja, as crianças, os cuidadores, as famílias, os agentes e as instituições educacionais, lideranças da comunidade e formadores de opinião. As organizações que atuavam com a primeira infância tinham as suas agendas e foi bem difícil criar uma agenda comum, demandando muitas conversas e flexibilizações para conseguir chegar a mais de meio milhão de pessoas em quatro territórios da Colômbia. Hoje sabemos que o modelo de backbone que utilizamos foi um dos principais fatores de sucesso nesse processo, porque nos ajudou a ter clareza da estrutura de governança e da liderança da organização desse time”, pontuou.

O futuro é coletivo: o desafio do engajamento

No último painel do Fórum, Ronaldo Matos, fundador do movimento Desenrola e Não me Enrola , mediou o diálogo, recebendo David Nemer, professor-assistente no departamento de estudos de mídia e no programa de estudos latino-americanos da Universidade de Virgínia, e Selma Moreira, vice-presidente de diversidade, equidade e inclusão LATAM, na JP Morgan.

“No diálogo de hoje, vamos tecer uma série de avaliações e compartilhar experiências sobre um futuro coletivo, um futuro em que a gente engaje, onde a gente tenha uma diversidade de atores sociais construindo uma sociedade mais igualitária”, disse Ronaldo para abrir a conversa, compartilhando diferentes dados que mostram a necessidade urgente de avançarmos nesse propósito. 

No Brasil, 56,1% da população se autodeclara negra. No país, o celular é a principal ferramenta de acesso à internet para 99,5% dos domicílios brasileiros. Nas regiões com alta taxa de vulnerabilidade social, o celular é a única ferramenta de acesso à internet para 70% das pessoas. No Jardim Ângela, bairro periférico de São Paulo, existem 1,4 antenas de telefonia móvel para cada 10 mil habitantes, enquanto o Itaim Bibi, região nobre da cidade, são 49,8 antenas de telefonia móvel para o mesmo montante de moradores.

Diante destes e outros dados, Selma coloca a sua visão sobre como governos, empresas e organizações do campo de investimento social privado podem trabalhar pela equidade racial.  “É muito complexo. A gente tem mais tempo de país com uma história escravocrata do que de um país liberto. Isso ainda está nas nossas entranhas de diferentes formas. Acho que todos aqueles que decidem ter uma postura intencional antirracista, agora precisam agir. Ou seja, me coloquei nesse lugar, qual é a minha ação? É do micro, de como você lida no dia a dia com as pessoas ao seu redor, na sua rede, com as pessoas que trabalham com você, quando você toma uma decisão num escopo maior de uma organização privada governamental ou social. Como é que você desenha os seus programas, se você está colocando intencionalidade para provocar a mudança que é necessária e urgente”, reforçou.

David falou sobre as principais transformações que ele considera necessárias para incluir a população negra como produtora de novas tecnologias, capazes de transformar e de combater as desigualdades sociais nos territórios. “As empresas de tecnologia precisam abrir espaço para não encarar essa população como meros consumidores, mas sim como produtores e trazê-los pra mesa onde as decisões são tomadas, discutindo design, desenvolvimento, mercado para que negras e negros possam trazer a visão de seus mundos, sua expertise, todo o conhecimento que, muitas vezes, não é entendido como um conhecimento válido porque está fora, porque está na periferia”, concluiu.

Saiba tudo o que aconteceu no primeiro dia do Fórum, painel por painel, acessando aqui a matéria completa. Continue acompanhando as redes sociais da UWB para participar de novos debates e ações sobre a metodologia impacto coletivo.

Ações para incluir populações invisibilizadas, garantindo equidade, e o papel das empresas foram os temas do 1º Dia do Fórum Latino-Americano De Impacto Coletivo

Nesta matéria, confira a síntese dos três painéis do dia 19, com mensagens-chave sobre a importância da colaboração e de uma atuação horizontal para envolver diferentes atores, trazendo equidade como pilar das mudanças sistêmicas e sustentáveis.

Iniciativa da UWB, em parceria com a UW da Colômbia e UW do México, com curadoria da FSG, o Fórum Latino-Americano de Impacto Coletivo, realizado dias 19 e 20 de outubro, reuniu cerca de 400 pessoas. Os participantes puderam ter acesso a conceitos e práticas de diferentes países, que estão enfrentando desafios socioambientais complexos, para gerar mudanças sistêmicase sustentáveis em diferentes regiões do mundo.

A atuação coletiva, colaborativa e horizontal tem sido a fórmula mais eficiente para estruturar estratégias capazes de resolver ou mitigar problemas que impedem pessoas e comunidades de prosperarem. No entanto, sem equidade, especialmente a racial, a metodologia impacto coletivo tende a não alcançar o sucesso esperado. Por isso, a revisitação sobre o conceito, que agora inclui e coloca a equidade no centro, foi o tema que abriu a programação.

Abertura do evento

Gabriella Bighetti, diretora executiva da UWB, abriu o Fórum ao lado de Cristina Gutierrez, diretora executiva da UW Colômbia, e Victor García, diretor de inovação e desenvolvimento da UW do México. Para Gabriela, “a metodologia impacto coletivo pressupõe um trabalho integrado entre membros da comunidade, organizações e instituições multissetoriais, que promovem a equidade por meio de aprendizado e de ações concretas, alinhando às iniciativas de cada um com o objetivo de alcançar mudanças sistêmicas”. Ela lembra que a metodologia foi criada há mais de 10 anos, nos Estados Unidos, mas ainda é pouco difundida na América Latina, por isso a realização de um fórum com essa abrangência.

Para Cristina Gutierrez, incluira equidade como pilar fundamental do conceito da metodologia impacto coletivo foi essencial. “Sem equidade não vamos resolver as desigualdades e continuaremos vivendo contextos com pobreza, racismo estrutural, violência, desemprego, falta de equidade de gênero e, obviamente, a falta de acesso aos direitos pelos grupos minorizados. Estamos vivenciando um período de pós pandemia que realmente impactou nossos países e precisamos ter um olhar renovado para conseguir mudanças transformadoras”.

A América Latina sofreu uma grande onda de problemas e temos que reconstruir o contexto social e econômico da população. Nos dois dias deste fórum, nós queremos ter uma conversa sobre o papel de cada um nessa equação, nesse contexto, e a força das parcerias é a chave para mitigar os efeitos negativos destes tempos em que o capital humano e as comunidades têm o papel de discutir e difundir experiências que já mudaram realidades”, afirmou Vitor.

Na abertura, a plateia pode assistir à apresentação artística do grupo Surarás do Tapajós, o primeiro grupo de carimbó de Alter do Chão, do Oeste do Pará, composto somente por mulheres e o único brasileiro só com mulheres indígenas.

Priorizar a equidade no impacto coletivo: atualização e aprendizados

Mediada por Marcelo Rocha, fundador e diretor-executivo do Instituto Ayíka, o primeiro painel trouxe o conceito impacto coletivo revisitado, com a inclusão da equidade racial como pilar da metodologia, nas vozes de seus criadores, John Kania, pesquisador, diretor-executivo do Colletive Chang Lab, um dos autores da metodologia impacto coletivo e do artigo “Priorizar a  equidade no impacto coletivo”, e Junious Williams, diretor do Junious Williams Consulting, Inc. e conselheiro sênior do Colletive Impact Forum, também um dos autores do artigo revistado.

John explicou que a ideia de estruturar a metodologia veio da percepção de que muitas organizações trabalhavam pelas mesmas causas, mas de forma independente, com seus financiadores. Os resultados muitas vezes eram mínimos e/ou descontinuados. A metodologia traz essa visão colaborativa e horizontal, juntando todo mundo em um ecossistema articulado e organizado. Com o tempo, perceberam que os avanços sociais das iniciativas de impacto coletivo ainda eram tímidos e que faltava um ingrediente essencial: a equidade, especialmente a racial, que precisa estar presente em todas as etapas que compõem uma ação baseada no impacto coletivo. Por isso, o artigo original, lançado há dez anos, que definia o conceito da metodologia, foi reescrito, incluindo a equidade racial. “Percebemos que o processo é tão importante quanto o produto, portanto, o impacto coletivo envolve trabalhar em escala e isso exige um aprofundamento do conhecimento e da definição do que representa. Evoluímos nessa definição, agora mais apropriada, que pode levar à equidade e à justiça no mundo”, afirmou John.

Junious chamou a atenção para a questão da equidade na prática: “Tem uma diferença entre incluir e pertencer. Quando eu incluo, eu tenho uma mesa e convido você para a minha mesa. Não mudo nada porque a mesa é minha e você é um visitante. Esse é um problema estrutural das sociedades, dos sistemas que foram construídos sem equidade. Mas não é suficiente ser convidado para uma mesa que não foi estruturada pensando em mim ou em outras diversidades da população. Isso é incluir, não é pertencer. Pertencer significa que eu te convido com a proposta de cocriar uma mesa que vai funcionar para todos e é isso o que a gente quer dizer com pertencer. É fundamentalmente importante porque se todos os grupos interessados, todos os stakeholders, não forem engajados desde a concepção, o projeto é ilegítimo e não vai funcionar para o benefício de todos os grupos, então tem a ver com representação, tem a ver com quem está sentado à mesa, tomando as decisões para a equidade”.

Marcelo contextualizou o cenário brasileiro, especialmente no que diz respeito às lideranças. “No Brasil, a gente tem uma população com 50.7% de pessoas negras e 70% da população mais pobre é majoritariamente negra. Esses dados se relacionam com essa questão da estrutura social, de quem ocupa os lugares de lideranças, os espaços estruturais da sociedade. Ver um jovem negro da minha idade, dirigindo uma organização é uma coisa completamente rara no nosso país”. 

Para Junious, os padrões de discriminação tiraram das pessoas negras as oportunidades de exercerem a liderança. “Precisamos ter certeza de que estamos investindo na geração atual de líderes e nas próximas gerações também para termos sistemas e estruturas que ajudem negras e negros a desenvolverem suas habilidades de liderança. Haverá sempre líderes visíveis, mas a gente sabe que liderar até movimentos menores também é crítico, é preciso ter uma continuidade de pessoas que vão se tornar líderes dessas lutas”, reforçou. 

Experiências que transformam populações vulneráveis e invisibilizadas 

A mediação deste painel foi feita por Lívia Lima da Silva, jornalista,cofundadora e editora do “Nós Mulheres da Periferia”. Ao lado dela, o Fórum recebeu representantes de iniciativas de impacto coletivo implementadas nos EUA (Texas e Havaí), na Índia e no Brasil.

A primeira a expor a experiência foi Laura Koening, diretora de soluções comunitárias da E3 Alliance. Ela apresentou o projeto que utiliza dados, evidências e atuação colaborativa para melhorar a aprendizagem dos alunos e diminuir as desigualdades, da infância à idade adulta, em Austin, no Texas.

O projeto “Os caminhos de matemática”, implementado em 2017, pretendia ajudar estudantes a avançarem na aprendizagem, já que apresentavam baixa performance na disciplina, o que tende a afetar a mobilidade dos alunos nas suas vidas produtivas no futuro. Mas havia disparidade no progresso desses estudantes. Negros e negras não conseguiam chegar ao resultado esperado, em comparação com estudantes brancos. Por isso, o grupo gestor se reuniu para identificar o que gerava essa desigualdade, fez uma pesquisa com os grupos interessados e criou recomendações para uma política local e para mudanças práticas. “Isso apoiou e engajou alunos e famílias e a gente rastreou esses dados ao longo do tempo. Hoje a maioria dos estudantes negros (mais de 80%) estão dentro dos resultados esperados de aprendizagem. Em 2018, esse índice era de 20%”, explicou Laura.

O segundo case foi apresentado por Maria Bystedt, líder de estratégia da H&M Foundation, e Akshay Soni, diretor do The Nudge Institute., organizações que compõe a iniciativa Saamuhika Shakti, em Bangalore, a primeira ação de impacto coletivo na Índia. O projeto conta com várias organizações implementadoras que se uniram para garantir aos catadores de recicláveis uma vida digna e renda segura, com foco específico em gênero e equidade. 

Lançado em 2021, tem como um dos pilares a cocriação de soluções com os atores que vivem nesses sistemas e com organizações que já trabalhavam de forma holística para atender as necessidades dos catadores. O Nudge Institute é a organização alicerce, responsável pela coordenação da parceria. “Queremos aliviar problemas que são intangíveis e isso coloca a equidade no centro. Trabalhamos com parceiros e comitê diretor, todos representados na mesa de diálogo. Queremos garantir que todo mundo tenha igual acesso à saúde e cuidar dessa população, por isso, cada parceiro faz suas intervenções e pautam suas iniciativas com base nos feedbacks obtidos nas reuniões com a comunidade”, explicou Akshay.

Para trabalhar a igualdade de gênero, cada parceiro faz a sua abordagem para depois, todos juntos, cocriarem estratégias e customizar as soluções para gerar a transformação pretendida.

Uma das ações foi a campanha “Das garrafas para os botões”. Cada botão de roupa é feito de 30% de plástico reciclável. Os catadores recebem pela coleta desses botões, o que aumenta muito a renda. “Também estamos explorando modelos de negócios conduzidos por catadores de lixo para a reciclagem”, reforçou Maria.

O terceiro case foi apresentado por Janice Ikeda, diretora-executiva da Vibrant Hawaii, uma experiência de implementação de microfinanciamentos para gerar oportunidades de desenvolvimento econômico ao povo indígena nativo do Havaí.

Com base em dados, a organização definiu o perfil da população da ilha, que possui um alto nível de pobreza e de pessoas que não conseguem acessar necessidades básicas. Envolveram governo, organizações filantrópicas, áreas da educação e do serviço social e pessoas interessadas em apoiar o desenvolvimento local. Também escutaram a população para começar a construir uma comunidade vibrante. “As pessoas não precisam ouvir o que elas precisam fazer, elas só precisam ser lembradas de quem são e a gente viu essa questão em diferentes narrativas dentro da comunidade”, explicou Janice.

As principais áreas trabalhadas para o desenvolvimento do Havaí são educação, economia, saúde e bem-estar. Na economia, reuniram mais de 300 stakeholders de todos os setores e distritos da ilha, para projetar uma estratégia econômica abrangente que fosse levada ao órgão federal, garantindo repasses que atendessem às expectativas e necessidades da população havaiana. “A comunidade participou de uma conversa sobre o que deveria ser incluído como prioridade para investimentos econômicos. Definimos, conjuntamente, que queríamos recursos para artes, saúde e bem-estar, educação, indústrias alimentícias sustentáveis, tecnologia e turismo regenerativo. Tudo foi incluído em um documento robusto, compartilhado com a comunidade. Oferecemos prêmios de até 2 mil dólares para a população dar sugestões sobre como trabalhar os temas solucionados. Tivemos dois grupos formados por 40 empreendedores e conseguimos mais investimentos com os governos”, contou.

O último painel foi sobre a experiência brasileira, apresentada por Thais Ferraz, diretora institucional do Instituto Arapyaú, para desenvolver a região do litoral sul baiano, onde o cacau é produzido.

“As árvores de cacau convivem com árvores nativas da Floresta da Mata Atlântica, o que requer uma série de serviços ambientais que são providos por esse sistema, mas que não necessariamente geram renda para as populações. A produção se dá, na sua maior parte, por meio da agricultura familiar. A partir de vários estudos desenvolvidos em colaboração, identificamos que os produtores têm uma renda abaixo do que acreditamos ser suficiente e aceitável e uma produtividade também abaixo do que eles podem alcançar. Uma das causas desse problema é a falta de acesso ao crédito”, explicou Thais.

Uma rede de parceiros estruturou o modelo de crédito em um blended finance, em que o capital filantrópico ajuda a estruturar e atrair investimentos que buscam retorno, conseguindo mobilizar mais de R$1 milhão para beneficiar 134 pequenos produtores, viabilizando a oferta de assistência técnica para eles. “Um ano depois, obtivemos um aumento de renda média de quase 40% para cada produtor. Entre as mulheres esse aumento foi ainda maior, de quase 44%, com uma inadimplência de apenas 0,48%”, celebrou. 

O Instituto Arapyaú ajudou a desenhar a iniciativa e fez o investimento filantrópico. Com o Instituto Humanize e especialistas na área ambiental desenharam o produto financeiro, denominado Título Verde. A operação é feita por uma organização comunitária que tem um profundo conhecimento do território, o que garante o sucesso da iniciativa. “A conexão com o público-alvo é muito importante. Ouvir as pessoas que estão sendo impactadas por essa iniciativa é fundamental”, concluiu. 

O papel das Empresas no Impacto Coletivo: Uma relação com a Agenda ESG

Este painel foi mediado por Silvana Caro, diretora-executiva da consultoria de sustentabilidade Soluciones Conjuntas, especializada em  relacionamento estratégico e gestão de alianças, no Peru.

Os painelistas convidados compartilharam o potencial e a importância das empresas na articulação e/ou apoio de inciativas de impacto coletivo.

Professor Heiko Spitzeck, Gerente do Núcleo de Sustentabilidade da Fundação Dom Cabral, introduziu o tema trazendo conceitos e práticas que relacionam a participação das empresas nas mudanças sistêmicas, alavancando a agenda ESG.

Usando exemplos práticos, de corporações de grande porte, ele levantou reflexões importantes como a necessidade de as pessoas que atuam na área de responsabilidade social criarem um sentido econômico para as empresas se engajarem na agenda ESG. Por exemplo, os riscos de perderem clientes e acionistas por não estar em acordo com questões socioambientais consideradas primordiais atualmente. “A lógica aqui, muitas vezes, é de uma pressão que a empresa tem para resolver um problema socioambiental e ela entende que não é um desafio somente dela, mas de outras organizações também e, juntas, podem colaborar para superar esse desafio”, explicou.

Depois dessa fala, Gianina Jimenez, Head de Comunicação, Sustentabilidade e Assuntos Corporativos do Grupo AJE, do Peru, produtora de alimentos presente em quatro países, apresentou o case de sua empresa.

Desde 2019, a AJE assumiu a missão de liderar uma revolução natural para mudar a forma como as pessoas se relacionam com o que o planeta fornece, reforçando o valor da biodiversidade e o legado cultural dos países onde estão presentes, por meio do empoderando das comunidades. Para isso, desenvolveram o projeto Super Frutos que Conservam Florestas, que oferece formação, assistência técnica e organização dos produtores, com remunerações justas pelo trabalho e pela produção. “É bom para o meio ambiente, porque estamos preservando as áreas de reserva nacional, e, também, é bom para quem consome, porque aproveitamos todos os benefícios dos frutos da Amazônia. Por meio do projeto, conseguimos comprar mais de 700 mil quilos diretamente dos produtores, beneficiando mais de 200 famílias, capacitando 24 comunidades e provendo quatro áreas naturais protegidas”, explicou. Toda a operação é feita por meio de parcerias com organizações e o governo peruano. O modelo deu certo e está sendo implementado na Tailândia, onde a empresa tem sede. 

Para encerrar o painel, e o primeiro dia do Fórum, Maike Von Heymann, Gerente de Parceria e Desenvolvimento Socioeconômico da Anglo American, compartilhou a experiência da empresa britânica de mineração com operações na África do Sul e na América Latina. “Temos uma rede de sustentabilidade e um dos eixos-chave é o que chamamos de ‘Desenvolvimento Regional Colaborativo’, uma plataforma colaborativa para impulsionar as regiões onde temos sedes. A plataforma foi projetada com base nos princípios do impacto coletivo atuando com uma rede de atores diversos: setores privado e público, sociedade civil, ONGs e instituições que possuam a mesma visão de desenvolvimento socioeconômico”, explicou Maike.

Segundo ela, a empresa tem uma visão de longo prazo e para além das operações de mineração, focando na diversificação econômica com utilização e reaproveitamento da inovação, tecnologia e do valor agregado a todos os atores participantes.

No Peru, essa plataforma foi implementada em 2019 e se chama Moquegua Crece. Na tomada de decisão, todos os parceiros têm o mesmo peso de voto. “Estamos implementando projetos de desenvolvimento de cadeias de valor com um foco de hidrogênio verde e fizemos uma pesquisa com uma associação no Peru. Sobre o uso dos recursos naturais, focamos na água com o lançamento de um projeto-piloto para o manejo sustentável dos recursos hídricos. Para nós, é muito importante que façamos essas ações colaborativas vinculadas ao nosso propósito de reconfigurar o setor da mineração para que consiga melhorar a vida das pessoas, criando benefícios para todos os atores”, concluiu.

Durante os painéis do primeiro dia, a audiência pode interagir com os temas, construindo nuvens de palavras, contando histórias pessoais relacionadas ao impacto coletivo e respondendo ao quizz, além de encaminhar perguntas aos palestrantes.

Equidade racial é tema do Fórum Latino-americano de Impacto Coletivo

Realizado pela UWB (United Way Brasil), em parceria com as UW da Colômbia e do  México, o evento on-line reunirá nos dias 19 e 20 de outubro, especialistas de  diferentes países para compartilhar conhecimentos e práticas que utilizam a  metodologia impacto coletivo com o propósito de enfrentar desafios socioeconômicos  e ambientais complexos. 

As inscrições já estão abertas e podem ser feitas na  página: https://uwb.org.br/forum/

O Fórum Latino-americano de Impacto Coletivo irá reunir, ao vivo,  no YouTube, representantes de instituições, fundações, organizações sociais,  Academia, poder público, empresas e interessados no tema. O objetivo é ampliar o  debate sobre a importância de uma atuação coletiva, colaborativa e horizontal para  formular estratégias eficientes capazes de resolver ou mitigar problemas que impedem  pessoas e comunidades de prosperarem, comprometendo a sustentabilidade do  planeta. 

Nesta edição do fórum, a equidade, especialmente a racial, é o tema central dos  diálogos e debates, entendendo que promovê-la é essencial para que as ações sejam,  de fato, sistêmicas e sustentáveis. Por isso, a importância de se ter clareza sobre o  conceito da equidade definida como “a imparcialidade e a justiça alcançadas por meio  da avaliação sistemática das disparidades em oportunidades, resultados e  representações e a reparação dessas distorções excludentes por meio de ações  intencionais e direcionadas” (artigo Priorizar a equidade no impacto coletivo). 

O foco na equidade racial se sustenta na realidade histórica enfrentada pelas pessoas  negras, frequentemente marginalizadas estrutural, institucional e interpessoalmente  nos diferentes países. Focar nessa equidade nos permite apresentar ferramentas e  recursos que podem ser aplicados em outros segmentos sujeitos à exclusão – pessoas  com deficiência, orientação sexual, gênero, classe social, casta, etnia, religião etc. 

Convidados internacionais e nacionais trarão diferentes práticas  No primeiro dia do evento, John Kania, pesquisador e cocriador da metodologia de  impacto coletivo, em 2011, e Junious Williams, conselheiro sênior do Colletive Impact  Forum, irão explicar como se deu a reformulação do conceito que define a  metodologia, revisitado após dez anos, para tornar as ações mais efetivas. Suas explanações terão, como base, o artigo “Priorizar a equidade no impacto coletivo”,  escrito por eles e outros especialistas, publicado na revista Stanford Social Innovation  Review. 

O dia será pontuado por apresentações sobre experiências de impacto coletivo de  países dentro e fora da América Latina, com foco na equidade racial. Também trará o  painel O papel das empresas no Impacto Coletivo: uma relação com a agenda ESG,  que terá a introdução conceitual do Prof. Heiko Spitzeck, professor na área de  sustentabilidade e Gerente do Núcleo de Sustentabilidade da Fundação Dom Cabral.

No segundo dia do fórum, lideranças e jovens-potência do Brasil, da Colômbia e do  México, do movimento internacional Global Opportunity Youth Network (GOYN), irão  compartilhar suas experiências territoriais, indicando a relevância da iniciativa para  engajar e mobilizar jovens-potência, colocando-os no centro da rede de articulação de  oportunidades formativas para promover a inclusão produtiva de juventudes. 

O painel “Impacto Coletivo como uma das tendências do investimento social  privado” trará dados e percepções de especialistas e pesquisadores, além de relatos  de práticas bem-sucedidas, nacionais e internacionais, para evidenciar o potencial da  metodologia impacto coletivo para o contexto e fortalecimento do investimento social  privado no Brasil. 

No painel Papel das organizações que atuam como backbone em projetos de Impacto  Coletivo, mediado por Jennifer Splansky Juster, diretora-executiva da FSG, será  debatido o papel fundamental das instituições que atuam como parceiras  articuladoras de iniciativas que utilizam a metodologia impacto coletivo para enfrentar  problemas sociais complexos. Toda a programação do Fórum Latino-americano de Impacto Coletivo está disponível  na página do evento.

Parceria com Fundação Lenovo promove a inclusão de jovens e universitários de escolas públicas no universo STEAM

As profissões do futuro são um desafio presente. Com os avanços da tecnologia, o mercado de trabalho tem vivenciado a falta de mão de obra especializada para postos que exigem habilidades tecnológicas apuradas. Somente no setor de TI, o Brasil terá 530 mil vagas de trabalho até 2025 não preenchidas, de acordo com Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscom). Ações que inspirem e preparem jovens para ocuparem esses lugares no curto e médio prazo são urgentes e essenciais.

Pensando nisso, a United Way Brasil se uniu à Fundação Lenovo, braço de filantropia da fabricante, e ao Social Brasilis para proporcionar uma aprendizagem diferenciada, rumo ao futuro. Por meio do Programa Juventudes STEAM, 101 jovens de escolas públicas e cerca de 40 alunos e professores universitários das cidades de Fortaleza e Itapipoca, ambas no Ceará, estão desenvolvendo habilidades 4.0 e competências digitais para fortalecer conceitos como cidadania e visão crítica com o objetivo de construir soluções para problemas cotidianos. 

O projeto usa a Ciência, a Tecnologia, as Engenharias, a Arte e a Matemática (STEAM- Science, Technology, Engineering, Art, Mathematics) nesse processo de construção, sendo a Arte uma importante aliada dos conceitos exatos e racionais para potencializar as competências socioemocionais, como o pensamento cognitivo, criativo e prático, fomentando um olhar integral sobre as juventudes. 

Para Alice Damasceno, Head de Filantropia da América Latina da Fundação Lenovo, a combinação de educação em STEAM com desenvolvimento de habilidades socioemocionais é importante para empoderar os jovens a irem além. “Investir na educação de qualidade para jovens é investir no futuro, e isso não se restringe à qualificação técnica. Os estudantes de hoje serão as pessoas que amanhã resolverão os nossos problemas mais urgentes, contribuindo para o crescimento cultural, econômico, científico e social da sociedade”, afirma.

Outro aspecto importante do projeto é a utilização de resíduos sólidos para a construção de soluções, reforçando a importância da consciência ambiental como um aspecto inerente à formação de cidadãos responsáveis pela sustentabilidade do planeta. 

O projeto está em consonância com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que orienta a importância de as escolas apoiarem os estudantes no desenho de seus projetos de vida. Nesta edição do Programa Juventudes STEAM, um time de 34      colaboradores da Lenovo Brasil assumiu o papel de mentores dos estudantes para orientá-los no seu projeto de vida e nos desafios técnicos com os trabalhos a serem desenvolvidos a partir da metodologia STEAM.     

“Percebi que eles agora têm uma nova perspectiva sobre educação, confiança na sua capacidade de alcançar objetivos e sonhos. Mal posso esperar para participar novamente e expandir cada vez mais o acesso a novas perspectivas através da educação”, comentou Pedro Augusto de Carvalho, mentor voluntário e colaborador da Motorola Product Marketing Manager.

A mentora voluntária Ana Luisa Florêncio, Gerente de Desenvolvimento de Software da Motorola, afirma que “o processo de mentoria é sempre muito importante para ajudar a moldar e acelerar o nosso desenvolvimento profissional e pessoal. Para mim, ser uma mentora nesse programa é muito gratificante, pois posso usar meu tempo e minha experiência para auxiliar adolescentes na definição dos seus projetos de vida, e ainda consigo aprender muito com as diferentes perspectivas de cada participante.” 

Aprendizagem mão na massa

Para desenvolver as habilidades pretendidas, o programa propõe aos jovens e seus professores desenhar um protótipo para solucionar um problema social enfrentado pela comunidade escolar e/ou pelo território. Durante essa construção, os jovens utilizam o pensar crítico, o trabalho em equipe, a oratória (pitch), especialmente quando apresentam o protótipo para uma banca de mentores-avaliadores. Depois dessa etapa, os participantes podem ser encaminhados para formações complementares, programas de aceleração e outras atividades importantes à sua formação integral. 

Dentre alguns protótipos que já foram pensados a partir do STEAM, estão soluções para a falta de acesso à água encanada e ao saneamento básico, problemas que impedem a aprendizagem na escola (infraestrutura, por exemplo), saídas para manejo do solo, opções para ampliar ofertas de trabalho e renda, dentre outros.  

Equidade de gênero como foco

A iniciativa tem também o objetivo de despertar nas jovens mulheres o interesse pelas carreiras STEAM, buscando ampliar a participação delas em postos de trabalho, comumente ocupados pelos homens. Na turma de Fortaleza, com 41 jovens, 33 são mulheres, todas interessadas e com vontade de aprender e progredir.

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), as mulheres representam, nas universidades, apenas 35% dos estudantes matriculados em STEAM. O porcentual é ainda menor nas engenharias de produção, civil e industrial, e em tecnologia: não chega a 28% do total. Já se sabe que a equidade de gêneros nas carreiras STEAM pode trazer mais equilíbrio, criatividade, inovação e crescimento para a humanidade.

Ágata, estudante da EEEP Comendador Miguel Gurgel, de Fortaleza (CE) está empolgada com o programa: “Na primeira aula eu já gostei muito e achei interessante esse mundo novo, da robótica, que é e será bastante utilizada, especialmente no futuro. O programa ajuda alunos e professores a se integrarem nesse novo mundo.”

A iniciativa vai ao encontro dos objetivos da UWB para investir na potência das novas gerações de brasileiros, apoiando soluções inovadoras que favoreçam a inclusão e diversidade das juventudes em contextos até então excludentes. É dessa forma, e ao lado de instituições e empresas parceiras, que iremos avançar como sociedade e como país.

Sobre a Lenovo  

A Lenovo (HKSE: 992) (ADR: LNVGY) é uma gigante global de tecnologia, classificada em 171º lugar na Fortune Global 500 com receita de US$ 70 bilhões, com 75 mil funcionários em todo o mundo, atendendo milhões de clientes em 180 mercados em todo o mundo. Focada em uma visão ousada para oferecer tecnologia mais inteligente para todos, a Lenovo construiu seu sucesso como maior player de PCs do mundo, expandindo-se para novas áreas-chave de crescimento incluindo armazenamento, mobile, servidores, soluções e serviços. Essa transformação em conjunto com a inovação de mudança de mundo da Lenovo está construindo uma sociedade digital mais inclusiva, confiável e sustentável para todos, em todos os lugares. Para saber mais, visite o site da Lenovo e leia sobre as últimas notícias no StoryHub.

Infância: o início de tudo e de uma sociedade mais justa

Saiba: todo mundo teve infância/Maomé já foi criança/ Arquimedes, Buda, Galileu/ E, também, você e eu

(“Saiba”, de Arnaldo Antunes)

Para celebrar o Dia da Infância, em 24 de agosto, queremos compartilhar com você algumas reflexões. Como você sabe, a primeira infância (0 a 6 anos) é causa prioritária da UWB. E essa escolha não foi por acaso. Acreditamos na importância crucial dos primeiros anos de vida para a formação do ser humano, com base em inúmeras evidências científicas. Em síntese, o que experimentamos e presenciamos nos seis primeiros anos de vida influenciam – e muito – o adulto que nos tornamos.

É interessante observar que a maioria das pessoas se sensibiliza diante de um bebê, de uma criança. O coração é preenchido de ternura, de esperança quando convivemos com os pequenos. No entanto, a realidade social brasileira não reflete esse sentimento, que deveria proteger e garantir a cada criança, independentemente de sua condição, o direito a se desenvolver plenamente.

Há 20,6 milhões de crianças de 0 a 6 anos no Brasil, mas 42% da população, que convive com crianças nessa faixa etária, vive em domicílios sem saneamento básico completo, ou seja, com rede de água, de esgoto e coleta de lixo; 15,1% não têm rede de água e 35,7% não têm rede de esgoto (Pnad 2017 – IBGE).

Mais de 18 milhões de crianças e adolescentes (34,3% do total da população) moram em domicílios com renda per capita insuficiente para adquirir cesta básica de bens; 61% vivem na pobreza (Pobreza na infância e Adolescência, Unicef).

Só em 2018 foram notificados mais de 30 mil casos de violência contra crianças de 0 a 4 anos, segundo o Datapedia.info.

Diante desses índices, que são alguns exemplos de um desafio bem maior, ficam as perguntas: o que estamos fazendo para que essa realidade mude? Como esse cenário vai impactar a sustentabilidade social e o futuro das novas gerações de brasileiros? Se você se incomodou com o que leu até aqui, talvez tenha interesse em fazer diferente e apoiar ações que tragam mudanças e avanços para a vida de crianças em situação de vulnerabilidade social.

Soluções colaborativas para gerar impacto social

Na UWB, trabalhamos em rede. No caso da primeira infância, ao lado do poder público (secretarias de educação e escolas), de empresas e de organizações da sociedade civil, implementamos o Programa Crescer Aprendendo, cujo diferencial é cuidar de quem cuida, ou seja, oferecer a mães, pais e responsáveis pela criança um suporte formativo e psicológico a fim de que possam conduzir a educação e os cuidados com os pequenos com mais propriedade. Também articulamos com parceiros apoio à segurança alimentar, já que a pobreza, alargada pela pandemia, trouxe a fome com ela.

Outra frente de atuação é com foco nas corporações para que ofereçam aos seus colaboradores, com filhos e netos na primeira infância, benefícios que impactem positivamente a parentalidade e favoreçam ambientes e vínculos saudáveis para o convívio familiar. Por isso, mantemos a plataforma Guia de Primeira Infância para Empresas, com mais de 600 ações implementadas por companhias de diferentes portes e áreas, para que outras se inspirem e, também, adotem políticas de primeira infância em suas plantas e escritórios. Uma oportunidade e tanto para a sua empresa fazer a diferença.

Quem cuida da criança cuida de uma geração inteira, fortalecendo a sociedade para que possa avançar com mais equidade e oportunidades dignas a todos os adultos do futuro que, hoje, ainda estão engatinhando, começando a falar, escrevendo as primeiras palavras, descobrindo o mundo.

No Dia da Infância, e em qualquer tempo, você pode homenagear a criança que você foi e apoiar tantas outras para que acessem o direito ao pleno desenvolvimento. Entre para a Rede de Anjos da UWB. Juntos vamos fazer muito mais pela primeira infância brasileira: https://uwb.esolidar.com/pt

Crescer Aprendendo e Rede Conhecimento Social se unem para avaliar mudança de comportamento nas famílias do Ceará

O Programa Crescer Aprendendo, da UWB, entra em uma nova etapa. Implementado em diferentes cidades do País, há mais de cinco anos, desde 2021 é uma das ações da Coalizão Ceará, união de esforços multissetoriais em favor da primeira infância, que reúne o Programa Mais Infância Ceará, as fundações Maria Cecilia Souto VidigalBernard van LeerPorticus e a UWB, com o apoio da Secretaria da Educação do Estado, por meio da Coordenadoria de Educação e Promoção Social.

O objetivo do programa é promover o pleno desenvolvimento infantil, especialmente nos seis primeiros anos de vida, uma das fases mais importantes do desenvolvimento humano. A ciência aponta que as relações parentais saudáveis estão dentre os principais fatores que propiciam o bem-estar integral da criança. Este é o foco do Crescer Aprendendo: apoiar pais e cuidadores a fim de que estabeleçam e/ou fortaleçam vínculos positivos com suas filhas e seus filhos.

Para que isso aconteça, as ações do programa visam informar as famílias, especialmente as que vivem em situação de vulnerabilidade social, sobre temas relacionados aos primeiros anos de vida e orientá-las sobre como aplicá-los no dia a dia,.

Em 2021, as famílias vinculadas às escolas cearenses de educação infantil, parceiras do programa, receberam formação por meio do WhatsApp, considerando o contexto da pandemia.

Durante o ano, foram feitas pesquisas internas, pela equipe técnica do programa, que mostraram mudança de comportamento nas famílias participantes. Essa indicação levou a UWB a pensar na sistematização do Crescer Aprendendo para compartilhar a metodologia, com o objetivo de gerar escala e compor políticas públicas de outras cidades e estados, a partir do modelo aplicado no Ceará.

Mas ainda faltava um componente essencial nessa equação de disseminação do programa: uma avaliação externa robusta, realizada por uma organização referência, que pudesse avaliar se, de fato, o programa promoveu mudança de comportamento nas famílias. Por isso, a UWB escolheu a Rede Conhecimento Social (ReCoS) para realizar essa tarefa.

A organização já havia feito um trabalho semelhante com outro programa da UWB, o Competência para a Vida (focado nas juventudes) E uma das características que pesou nessa escolha é a metodologia utilizada pela ReCoS: a construção participativa dos instrumentais e da análise da pesquisa.

Avanços na parentalidade positiva e nas articulações com os municípios

Usando abordagens quantitativa e qualitativa, a avaliação realizada pela ReCoS foi dirigida à edição 2021, em cinco dos nove municípios cearenses trabalhados pelo programa, e realizada em parceria com as famílias, secretarias de educação e educadores das escolas públicas, revelando um cenário bastante promissor ao programa.

Por um lado, os resultados demonstram boa articulação territorial com as secretarias de educação, contribuindo com a formação de educadores, com atualização de conceitos e aprimoramento metodológico e facilitação do trabalho durante o período da pandemia. Por outro lado, as famílias apresentaram bom engajamento com o processo formativo, um maior fortalecimento dos seus vínculos com a escola e uma tendência de aumento da participação no aprendizado da criança: nove a cada dez famílias viram melhora nas práticas de cuidadocom as crianças depois da formação.

A formação a distância e em formato digital foi uma estratégia importante para apoiar as famílias e os educadores no período de distanciamento social. A avaliação demonstra tendências de mudança positiva das práticas de cuidado com as crianças por parte de seus responsáveis. Importante ressaltar a relevância da continuidade das ações para que as conquistas alcançadas sejam consolidadas em mudanças de longo prazo no comportamento.

Com os resultados da avaliação do Crescer Aprendendo edição digital no Ceará (2021), é possível aprimorar as estratégias de atuação do programa, vislumbrando novas implementações em outros territórios, tal como a formação híbrida posta em curso em 2022.

Por isso, a equipe da UWB está organizando estratégias para disseminar a metodologia em todos os cantos do País, com o objetivo de fortalecer a parentalidade positiva para garantir um melhor desenvolvimento infantil à primeira infância brasileira.

(Artigo escrito pelas equipes da ReCoS e da UWB)

“As ações que realizamos para os pais estão vinculadas à estratégia de equidade de gênero”

Nesta entrevista com João Paulo Camarinha Figueira, Gerente de Desenvolvimento Sustentável da Special Dog, empresa que compõe o Comitê de Fomento do Guia de Primeira Infância para Empresas, da UWB, o tema são as ações realizadas para fortalecer a paternidade ativa dos colaboradores da corporação. As iniciativas pretendem impactar positivamente o desenvolvimento infantil de filhas e filhos para promover uma primeira infância saudável. Confira!

United Way Brasil – A Special Dog sempre teve todo um cuidado com a primeira infância, por isso, também realiza ações para os papais. Como isso acontece?

João Paulo – As ações que realizamos com os pais estão vinculadas à estratégia de equidade de gênero nas equipes. Por exemplo, uma de nossas metas, até 2025, é ter pelo menos 30% de mulheres nos cargos de alta liderança da empresa. Hoje esse índice é de 23,3%. Acreditamos que focar só no empoderamento das mulheres não resolva a questão na velocidade necessária. Precisamos envolver os homens para alcançar o êxito esperado. Sabemos que muitas mulheres não conseguem avançar nas suas carreiras porque não têm apoio das corporações, nem dos parceiros. Nós possuímos um amplo programa para ajudá-las a se fortalecerem como mães e profissionais. E implementamos ações para que os parceiros tenham a consciência de seus papeis nisso tudo, dando-lhes também suporte para que exerçam uma paternidade presente e ativa. As boas consequências dessa política recaem no bem-estar de filhas e filhos, colaborando para um bom desenvolvimento infantil.

UWB – Na prática, quais iniciativas vocês implementaram como parte da política de primeira infância da empresa, com foco nos pais?

JP – Mais recentemente, criamos uma roda de conversa – o #ElesporNós. A empresa tem 1.450 colaboradores, sendo que 85% são homens, ou seja, um público muito significativo que precisa ser acolhido para dialogar sobre masculinidades. Isso inclui o sentido da paternidade. Estamos testando esse modelo com um grupo menor e a primeira reunião foi um sucesso. Compartilhamos o documentário “O silêncio dos homens”, da Plataforma Papo de Homem, o que gerou muito debate. Fiquei surpreso com a participação e as contribuições dos envolvidos na experiência. Queremos ampliar essa prática. O grupo de mulheres existe há mais tempo. Então, é hora de envolver os homens nesses debates.

UWB – Vocês têm um programa de formação e orientação para pais como têm para mães?

JP – Sim. Antes a gente tinha só o das mães, mas vimos a necessidade de incluir os pais, muitos deles de primeira viagem. Então, grande parte dos benefícios que elas recebem, eles recebem também. Informações sobre nutrição, cuidados com os bebês, a importância das vacinas e das visitas ao pediatra, o pós-parto (puerpério)… Enfim, eles acessam todos os temas essenciais, da gestação à criação de suas crianças, especialmente na fase da primeira infância. A gente oferece a licença-paternidade de 20 dias com a condição de que eles façam parte desse programa. Os pais também recebem o kit maternidade, com mais de 60 produtos para seus bebês, como cobertores, banheira, mordedor… um benefício que apoia especialmente as famílias em situação econômica menos favorável. No Dia dos Pais, sempre proporcionamos uma programação diferenciada. Já promovemos diálogos com os movimentos Filhos do Currículo, 4Daddy, Papo de Homem e este ano traremos o pessoal do MEMOH para falar sobre masculinidade e a relação pai e filhos.

UWB – E para além dos colaboradores da empresa? Vocês têm ações voltadas à comunidade do entorno?

JPPrezamos muito que as ações da empresa repercutam positivamente sobre a comunidade. Então, criamos um Centro Cultural em Santa Cruz do Rio Pardo, SP. Lá oferecemos diversos cursos e oficinas gratuitos para que mães, pais, avós possam acessar conhecimento e práticas que os apoiem na geração de renda – é o caso, por exemplo, dos cursos de corte e costura, artesanato e culinária. As crianças de 3 a 6 anos também podem participar da experiência de musicalização, especialmente pensada para elas, e seguir na área musical através dos instrumentos e canto coral. Além disso, apoiamos o Programa Na Mão Certa, da Childhood Brasil, envolvendo nossos mais de 400 motoristas e ajudantes, muitos deles pais, que viajam pelo Brasil. O programa é uma ampla ação que combate a exploração e o abuso sexual infantil nas estradas do País, convocando e preparando caminhoneiros para serem agentes de proteção dos direitos de crianças e adolescentes.

UWB – Na sua opinião, qual a importância do Guia de Primeira Infância para Empresas, realizado pela UWB e parceiros, que reúne mais de 600 iniciativas que podem ser implementadas em diferentes corporações para promover uma primeira infância saudável?

JP – Quem dera a Special Dog tivesse acesso a um guia robusto como este há 20 anos, quando iniciou suas atividades e priorizou a infância como pilar de responsabilidade social. Com certeza teríamos avançado com ainda mais consistência e velocidade. Sabemos que temos muito a fazer para garantir os direitos de crianças de 0 a 6 anos. Mas o guia é um ponto de partida importante para que empresas de todos os portes e áreas, que desejem priorizar essa pauta, possam iniciar com um plano bem estruturado e eficiente. Para isso, é preciso entender que investir na primeira infância é permitir que todos os estímulos e interações necessários sejam ofertados para que a criança aproveite todo o seu potencial e que se desenvolva para se tornar o adulto saudável que nossa sociedade tanto precisa. Por isso, meu conselho às corporações é que conheçam o guia, definam suas prioridades e atuem. Dessa forma, criamos um ciclo virtuoso onde todos ganham – mães, pais e filhos, os negócios da empresa, a comunidade e a sociedade em geral. A satisfação que sinto, enquanto pai, de trabalhar em uma empresa que se engaja e inspira sua gente a fazer o mesmo pelas crianças, é enorme. Muito orgulho e gratidão envolvidos.

Comitê de empresas coloca a primeira infância como pauta prioritária nas corporações

A ciência tem dados e evidências contundentes sobre a importância de a criança, de 0 a 6 anos, vivenciar vínculos saudáveis e experimentar ambientes amigáveis, que a acolham e a ajudem a se desenvolver plenamente, com afeto, muito brincar, trocas positivas, direitos garantidos e condições financeiras que favoreçam o acesso a bens essenciais à sua existência.

Os economistas também concordam que a primeira infância é determinante para o bem-estar coletivo, em todos os níveis. O Prêmio Nobel norte-americano James Heckman ressalta que o retorno sobre o investimento realizado nos seis primeiros anos de vida pode ser de 7% a 10% ao ano, porque gera o aumento da escolaridade e a qualificação da performance profissional de indivíduos que receberam apoio durante essa fase inicial da vida. Também diminui índices de violência e quebra ciclos geracionais de pobreza.

Sabemos que, no Brasil, o setor privado emprega cerca de 50% das famílias com crianças de 0 a 5 anos (Pnad, 2020). Por isso, é essencial que o ecossistema corporativo olhe para a causa da primeira infância, porque os retornos sociais são imensos, além de trazer ganhos às corporações, como mais produtividade, menos demissões e credibilidade junto à cadeia de valor. Não é à toa que a primeira infância é considerada uma pauta transversal para apoiar o avanço da agenda ESG nas corporações.

Comitê com empresas-referência quer fomentar a causa

A UWB lançou, em 2021, O Guia de Primeira Infância para Empresas com o objetivo de compartilhar e facilitar o acesso das companhias a mais de 600 iniciativas que beneficiam pais, mães, filhos e filhas, de 0 a 6 anos. O guia também é um espaço de trocas, já que permite às empresas que apresentem suas ações para inspirar políticas internas de primeira infância aos seus pares. Atualmente, mais de 400 corporações estão cadastradas no guia.

Para trabalhar a pauta ativamente no ecossistema corporativo, foi criado um Comitê de Fomento para a Primeira Infância, com representantes das áreas de RH e Sustentabilidade Social da FEMSA, Lear, Special Dog eTakeda junto à UWB e ao Great Place to Work (GPTW).

As empresas do comitê já vivenciam experiências bem-sucedidas na área de primeira infância, reconhecidas por premiações, como a da GPTW, na categoria Atenção à Primeira Infância, do prêmio Melhores Empresas para Trabalhar, sendo que parte delas contribuiu à construção do guia, desde o início. 

O Comitê tem uma agenda específica para trabalhar pela causa e se tornar referência em políticas de primeira infância. 

Um dos pontos dessa agenda é a realização de uma pesquisa para reunir dados e evidências sobre a influência na saúde física e emocional de mães e pais colaboradores que recebem apoio e benefícios das empresas para criar suas crianças. O estudo contará com a colaboração das corporações do comitê, por meio de conversas dos colaboradores com psicóloga especializada e formações com especialistas. Os achados serão sistematizados pelos profissionais da Universidade Federal do Pará (UFPA). O objetivo é compilar subsídios para a elaboração de políticas públicas e privadas com foco na primeira infância, entendendo a relação de satisfação dos funcionários com seu trabalho e com o bem-estar de seus filhos como fatores possíveis para o aumento da produtividade.

O Comitê também quer criar espaços de diálogo para trabalhar o tema primeira infância como pauta transversal à agenda ESG, com o objetivo de levar ao mundo corporativo os insights dessas conversas, em eventos, ações de comunicação e demais iniciativas que sensibilizem, especialmente, as lideranças empresariais.

Com essa ampla articulação, realizada pela UWB, a primeira infância pode ganhar cada vez mais espaço nas corporações para que as famílias se sintam amparadas e acolhidas, viabilizando relações saudáveis e afetivas com suas filhas e seus filhos. É desta forma que conseguiremos, juntos, fortalecer a base da sociedade: investindo no potencial das novas gerações.

Clique no LINK e acesse o Guia de Primeira Infância para Empresas. Conheça as muitas possibilidades de fazer parte dessa grande rede de transformação. Vamos juntos! 

“Ter a UWB ao nosso lado oportunizou a transformação da realidade e do cenário de milhares de crianças”

Crato é uma das nove cidades do Ceará que implementaram o Programa Crescer Aprendendo, da UWB, para fomentar a parentalidade positiva nas famílias com crianças de 0 a 6 anos. Por meio do programa, as escolas de educação infantil parceiras ampliaram o espaço de formação e diálogo com mães, pais e familiares, fortalecendo uma rede de apoio cujo foco é promover o desenvolvimento infantil integral. Para falar sobre essa parceria, conversamos com o senhor José Ailton de Souza Brasil, prefeito de Crato, um entusiasta da causa da primeira infância. Confira!

UWB – Senhor Prefeito, por que a primeira infância é foco de atenção da sua gestão?

Prefeito José Ailton – O município do Crato considera a primeira Infância prioridade e tem como premissa que esta importante fase é período fértil para a aprendizagem, bem como defende e abraça a causa da garantia dos direitos das crianças, ofertando atenção especial àquelas atendidas pelas escolas de Educação Infantil. Nossos esforços são para que crianças de 0 a 6 anos cresçam aprendendo e tenham acesso a direitos essenciais assegurados. Só desta forma temos certeza de que se tornarão cidadãs e cidadãos saudáveis em todos os aspectos. 

UWB – Quando apresentamos o Crescer Aprendendo à sua equipe, fomos bem recebidos e o trabalho fluiu de forma sinérgica. O que significou para o município essa parceria com a UWB?

Prefeito José Ailton – Ter a UWB ao nosso lado oportunizou a transformação da realidade e do cenário de milhares de crianças. Sabemos que os jovens também são foco de atuação da organização. Trabalhar com essas duas importantes fases da vida é essencial ao país, como também proporcionar o desenvolvimento de habilidades e competências para a vida dessas pessoas. Essa forma de atuar nos motivou a seguirmos juntos com a UWB.

UWB – De que forma a nossa parceria contribuiu para a primeira infância de Crato?

Prefeito José Ailton – Nesse período de pandemia, a UWB trouxe luz, por meio do Programa Crescer Aprendendo, para o universo infantil caririense, iluminando nossas famílias e crianças, amenizando os impactos emocionais causados por esta cruel Covid-19, estreitando vínculos familiares e motivando a todos para vivenciarem experiências positivas em seus lares. 

UWB – De que maneira a nossa parceria fortaleceu a educação infantil do município?

Prefeito José Ailton – Gosto de ressaltar que as contribuições foram significativas também para os profissionais que atuam na área, visto que nossa parceria colaborou para que as crianças não tivessem o seu desenvolvimento e aprendizagem totalmente prejudicados em meio ao contexto da crise pandêmica. Tanto a minha equipe da prefeitura como a equipe da Secretaria de Educação de Crato agradecemos imensamente a UWB e à equipe do Programa Crescer Aprendendo pelas excelentes contribuições ofertadas à Educação Infantil de nosso município.

O Programa Crescer Aprendendo chegou ao Ceará por meio da Coalizão Ceará, como uma das iniciativas que integram a política pública de primeira infância no Estado. Na coalizão, além da UWB, estão o Governo do Ceará, a Fundação Bernard van Leer, a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal e a Porticus. Para saber mais sobre o programa, acesse este link.