Nesta entrevista com João Paulo Camarinha Figueira, Gerente de Desenvolvimento Sustentável da Special Dog, empresa que compõe o Comitê de Fomento do Guia de Primeira Infância para Empresas, da UWB, o tema são as ações realizadas para fortalecer a paternidade ativa dos colaboradores da corporação. As iniciativas pretendem impactar positivamente o desenvolvimento infantil de filhas e filhos para promover uma primeira infância saudável. Confira!
United Way Brasil – A Special Dog sempre teve todo um cuidado com a primeira infância, por isso, também realiza ações para os papais. Como isso acontece?
João Paulo – As ações que realizamos com os pais estão vinculadas à estratégia de equidade de gênero nas equipes. Por exemplo, uma de nossas metas, até 2025, é ter pelo menos 30% de mulheres nos cargos de alta liderança da empresa. Hoje esse índice é de 23,3%. Acreditamos que focar só no empoderamento das mulheres não resolva a questão na velocidade necessária. Precisamos envolver os homens para alcançar o êxito esperado. Sabemos que muitas mulheres não conseguem avançar nas suas carreiras porque não têm apoio das corporações, nem dos parceiros. Nós possuímos um amplo programa para ajudá-las a se fortalecerem como mães e profissionais. E implementamos ações para que os parceiros tenham a consciência de seus papeis nisso tudo, dando-lhes também suporte para que exerçam uma paternidade presente e ativa. As boas consequências dessa política recaem no bem-estar de filhas e filhos, colaborando para um bom desenvolvimento infantil.
UWB – Na prática, quais iniciativas vocês implementaram como parte da política de primeira infância da empresa, com foco nos pais?
JP – Mais recentemente, criamos uma roda de conversa – o #ElesporNós. A empresa tem 1.450 colaboradores, sendo que 85% são homens, ou seja, um público muito significativo que precisa ser acolhido para dialogar sobre masculinidades. Isso inclui o sentido da paternidade. Estamos testando esse modelo com um grupo menor e a primeira reunião foi um sucesso. Compartilhamos o documentário “O silêncio dos homens”, da Plataforma Papo de Homem, o que gerou muito debate. Fiquei surpreso com a participação e as contribuições dos envolvidos na experiência. Queremos ampliar essa prática. O grupo de mulheres existe há mais tempo. Então, é hora de envolver os homens nesses debates.
UWB – Vocês têm um programa de formação e orientação para pais como têm para mães?
JP – Sim. Antes a gente tinha só o das mães, mas vimos a necessidade de incluir os pais, muitos deles de primeira viagem. Então, grande parte dos benefícios que elas recebem, eles recebem também. Informações sobre nutrição, cuidados com os bebês, a importância das vacinas e das visitas ao pediatra, o pós-parto (puerpério)… Enfim, eles acessam todos os temas essenciais, da gestação à criação de suas crianças, especialmente na fase da primeira infância. A gente oferece a licença-paternidade de 20 dias com a condição de que eles façam parte desse programa. Os pais também recebem o kit maternidade, com mais de 60 produtos para seus bebês, como cobertores, banheira, mordedor… um benefício que apoia especialmente as famílias em situação econômica menos favorável. No Dia dos Pais, sempre proporcionamos uma programação diferenciada. Já promovemos diálogos com os movimentos Filhos do Currículo, 4Daddy, Papo de Homem e este ano traremos o pessoal do MEMOH para falar sobre masculinidade e a relação pai e filhos.
UWB – E para além dos colaboradores da empresa? Vocês têm ações voltadas à comunidade do entorno?
JP – Prezamos muito que as ações da empresa repercutam positivamente sobre a comunidade. Então, criamos um Centro Cultural em Santa Cruz do Rio Pardo, SP. Lá oferecemos diversos cursos e oficinas gratuitos para que mães, pais, avós possam acessar conhecimento e práticas que os apoiem na geração de renda – é o caso, por exemplo, dos cursos de corte e costura, artesanato e culinária. As crianças de 3 a 6 anos também podem participar da experiência de musicalização, especialmente pensada para elas, e seguir na área musical através dos instrumentos e canto coral. Além disso, apoiamos o Programa Na Mão Certa, da Childhood Brasil, envolvendo nossos mais de 400 motoristas e ajudantes, muitos deles pais, que viajam pelo Brasil. O programa é uma ampla ação que combate a exploração e o abuso sexual infantil nas estradas do País, convocando e preparando caminhoneiros para serem agentes de proteção dos direitos de crianças e adolescentes.
UWB – Na sua opinião, qual a importância do Guia de Primeira Infância para Empresas, realizado pela UWB e parceiros, que reúne mais de 600 iniciativas que podem ser implementadas em diferentes corporações para promover uma primeira infância saudável?
JP – Quem dera a Special Dog tivesse acesso a um guia robusto como este há 20 anos, quando iniciou suas atividades e priorizou a infância como pilar de responsabilidade social. Com certeza teríamos avançado com ainda mais consistência e velocidade. Sabemos que temos muito a fazer para garantir os direitos de crianças de 0 a 6 anos. Mas o guia é um ponto de partida importante para que empresas de todos os portes e áreas, que desejem priorizar essa pauta, possam iniciar com um plano bem estruturado e eficiente. Para isso, é preciso entender que investir na primeira infância é permitir que todos os estímulos e interações necessários sejam ofertados para que a criança aproveite todo o seu potencial e que se desenvolva para se tornar o adulto saudável que nossa sociedade tanto precisa. Por isso, meu conselho às corporações é que conheçam o guia, definam suas prioridades e atuem. Dessa forma, criamos um ciclo virtuoso onde todos ganham – mães, pais e filhos, os negócios da empresa, a comunidade e a sociedade em geral. A satisfação que sinto, enquanto pai, de trabalhar em uma empresa que se engaja e inspira sua gente a fazer o mesmo pelas crianças, é enorme. Muito orgulho e gratidão envolvidos.