Março roxo: por que o uso de telas pode ser prejudicial à saúde integral da criança?

Voltamos à nossa campanha #ColorindoOCuidadoNaPrimeiraInfância, realizada sob o âmbito da parceria do Programa Crescer Aprendendo com o Condeca, para tratar de um assunto que preocupa especialistas, pais e responsáveis pela criança pequena: quais os limites de uso de telas na infância? Escolhemos o tema para marcar o mês, porque as ferramentas tecnológicas estão cada dia mais presentes em nossas vidas. Saber como utilizá-las é imprescindível para fazer combinados e orientar os pequenos, sem prejuízos ao seu pleno desenvolvimento.

Menos telas e mais brincar livre. Isto mesmo! Este é nosso alerta diante da realidade que temos presenciado, com o uso excessivo das telas pelas crianças, um problema que se agravou com a pandemia da Covid-19 e que tem se tornado uma questão que precisa ser discutida, com a finalidade de prevenir possíveis impactos negativos no período de 0 a 6 anos, principalmente.

As experiências online têm ocupado o lugar do brincar na natureza, o que é um sério problema, especialmente na primeira infância, fase em que as conexões cerebrais e o desenvolvimento infantil estão em ascendência. Especialistas chamam o fenômeno da exposição excessiva de crianças a computadores, celulares e TV de intoxicação digital infantil. Segundo dados da pesquisa Tic Kids Online Brasil 2019, naquele ano, 89% da população entre 9 e 17 anos era usuária de Internet, o que correspondia a cerca de 24 milhões de crianças e adolescentes, dos quais 95% tinham no telefone celular o dispositivo de acesso à rede.

Existem alguns fatores que contribuem para o excesso de telas, dentre eles a precariedade de espaços de lazer e o aumento da violência urbana, que levam ligado a manter a criança mais tempo em casa, com pleno acesso aos meios digitais. Apontamos para a necessidade de uma mudança nesse cenário para não prejudicar o bem-estar físico e mental das crianças. Isso significa dar o exemplo. Os adultos precisam fazer combinados sobre o uso de telas, mas também devem ser os primeiros a respeitá-los para que a aceitação das crianças seja mais natural, exercendo um papel parental positivo e estabelecendo uma conexão com a criança por meio do diálogo.

Ofertar hábitos como passeios a céu aberto, brincadeiras no parque, atividades no quintal ou na área comum dos prédios são atitudes que podem ajudar a desfocar o interesse da criança pelas telas para uma prática mais saudável. Caso contrário, ela tende a vivenciar o empobrecimento das habilidades motoras, das habilidades sociais e da exploração do mundo real.

Importante que as atividades ao ar livre e as brincadeiras em casa sejam diárias, pelo menos por uma hora, com a participação dos adultos em parte delas, para que os vínculos e o afeto sejam fortalecidos, alimentando a curiosidade e a autonomia dos pequenos.

Por que as telas fazem mal à criança?

A ciência já comprovou que o uso excessivo de telas é nocivo para o desenvolvimento físico, cognitivo e comportamental da criança. Dentre os problemas que causa, destacam-se: sedentarismo, obesidade, problemas osteoarticulares, como vícios posturais e dores musculares, baixa motricidade, manifestações oculares, como síndrome do olho seco, vista cansada e miopia, problemas auditivos pela exposição a excesso de ruído, além de questões relacionadas ao aspecto emocional.

A super estimulação causada pelas telas leva também à diminuição das horas e da qualidade do sono, interfere na capacidade de aprendizagem e pode causar sonolência diurna, o que atrapalha o dia a dia na escola e nas demais atividades. Foram também detectados atrasos na linguagem, porque as crianças aprendem a falar conversando com outras pessoas – e isso não acontece com as telas.

A falta de capacidade de atenção e de habilidade de saber esperar gera impulsividade, hiperatividade, baixa tolerância às frustrações, irritabilidade e estresse, outros efeitos desse uso excessivo.

Além de tudo isso, o mundo digital é um terreno perigoso para as crianças que, sem orientação e supervisão de adultos, podem sofrer prejuízos psicológicos ocasionados pelo cyberbullying, a versão digital do bullying, assim como riscos associados à exposição a conteúdos sensíveis sexuais e de violência.

Para fazer essa supervisão, é importante que os adultos utilizem ferramentas de controle parental e conversem sempre com suas filhas e seus filhos sobre o que estão acessando nas redes.

As telas são totalmente proibidas para as crianças?

Não exatamente, porque as ferramentas tecnológicas avançam a cada dia. Não tem como negá-las, já que são úteis a diferentes propósitos. No entanto, tudo depende do quando, quanto e de que forma elas ocupam nossas vidas, especialmente a de crianças em fase de desenvolvimento.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) orientam que o tempo de uso de telas esteja condicionado à faixa etária da criança, para evitar prejuízos à sua saúde física e mental:

Menos de 18 meses – Nenhuma exposição às telas, a não ser para videochamadas com mães, pais, avós, por exemplo.

18 meses a 2 anos – Pouca ou nenhuma exposição a telas. Esse é um período crítico para o desenvolvimento da criança, então estimule ao máximo a interação física com outras pessoas e a sua criatividade. Se a criança for exposta a telas, escolha conteúdos educativos de qualidade e assista com ela.

3 a 5 anos – Até uma hora ao dia. Tente planejar o tempo de assistir à TV com antecedência e resista à tentação de usá-la para acalmar ou distrair a criança, que nessa idade pode interagir com os personagens. Ajude-a a entender o que está vendo e aplicar isso ao mundo real. Quando possível, encontre livros ou jogos para que os pequenos interajam com seus personagens favoritos fora da tela.

6 a 10 anos – Entre uma hora e uma hora e meia ao dia. Nessa idade a criança já está na escola, então certifique-se de que ela não tenha o hábito de ficar exposta a TV, tablet e celular até que tenha terminado as tarefas. Tente balancear o uso criativo das telas e o que foca na diversão. Certifique-se de que esses momentos não ocupem o tempo que deve ser gasto com horas de sono adequadas, atividade física e outras atividades essenciais à saúde da criança.

E lembre-se: seja o modelo de comportamento que você deseja, por isso, limite o seu uso de telas a duas horas por dia.

No Crescer Aprendendo, programa implementado pela UWB (United Way Brasil), esse tema é central nas conversas e nos conteúdos compartilhados com as famílias participantes. Temos o compromisso de apoiá-las para que cuidem de suas crianças com segurança e conhecimento do que representam as telas no dia a dia dos pequenos. Este é um dos propósitos que fortalecem nossa parceria com o Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (Condeca-SP), financiada com o direcionamento do Imposto de Renda das empresas Caterpillar, Elanco, Escola Móbile, Lear, O-I, Sanofi e 3M. Até abril de 2024, 450 famílias em situação de vulnerabilidade social, da região do Campo Limpo, Jardim Ângela e Parque Santo Antônio, em São Paulo, serão beneficiadas com segurança alimentar, apoio psicológico e formação sobre temas essenciais, como o do uso das tecnologias, para fortalecer o bem-estar de suas(seus) filhas(os).

Encerramos o mês de março com esta reflexão: como você pode fazer a diferença no desenvolvimento infantil de filhos, netos, sobrinhos, tendo em vista a sua rotina diante das telas? Como melhorar a sua qualidade de vida presencial para ser exemplo às crianças? Vamos juntos fortalecer as novas gerações para que possam crescer saudáveis em uma sociedade próspera, capaz de acolhê-las e apoiar o seu pleno desenvolvimento!