Celebrado em 7 de abril, essa data coincide com a criação da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1948. Tem como objetivo conscientizar as pessoas sobre a importância de manter corpo e mente saudáveis, além de focar em problemas que afetam o bem-estar da população mundial, discutindo prevenções e soluções.
Em tempos tão difíceis como o que a humanidade está vivendo agora, falar da saúde na primeira infância é essencial, já que os pequenos, embora menos afetados pela pandemia causada pelo Covid-19, normalmente são as principais vítimas de doenças que, por conta da falta de prevenção, acabam por impactar negativamente o seu desenvolvimento. Mas, afinal, o que significa ter saúde nos primeiros anos de vida? É cuidar da alimentação? Do crescimento? Do desenvolvimento motor? Das relações e vínculos?
Para conversar conosco sobre este importante tema, convidamos a especialista em saúde na primeira infância, Anna Maria Chiesa, Enfermeira, Professora Associada Sênior da Escola de Enfermagem da USP, Membro do Comitê Científico do Núcleo Ciência pela Infância e Consultora Técnica da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal.
United Way Brasil – Anna, por que ter uma data que ressalte a importância da saúde da população do mundo?
Anna Chiesa – Celebrar o Dia Mundial da Saúde é sempre muito importante, especialmente no atual momento em que estamos atravessando a pandemia da COVID-19. Primeiramente é preciso pensar que a saúde vai muito além da ausência de doenças, configurando-se em um resultado das formas de exposição aos riscos e processos de proteção, tanto na vida privada como nos ambientes sociais. Inclui o acesso a bens, serviços, informações e, fundamentalmente, aos processos cotidianos de cuidado.
UWB – Mas nos primeiros anos de vida, as crianças estão sempre muito expostas, não é? Dependem de outros para que tenham garantia à saúde. O que tem sido feito por elas?
Anna Chiesa – A primeira infância, período que vai até os seis anos de idade, se caracteriza pela grande dependência de cuidados (alimentação, higiene, interação, proteção, prevenção), que diminui progressivamente à medida que a criança fica mais independente e autônoma. Historicamente, as ações de saúde para a população infantil sempre estiveram mais voltadas para a redução da mortalidade. No Brasil, alcançamos muitos avanços na melhoria do saneamento básico, no acesso às vacinas e programas de prevenção e promoção da saúde (pré-natal e parto seguros, puericultura – as consultas de rotina das crianças menores de dois anos com o pediatra –, incentivo à amamentação, diagnóstico e tratamento das doenças típicas da infância, distribuição de medicamentos, distribuição da caderneta de saúde da criança).
Desde o final dos anos 1990, no entanto, o desafio de garantir a sobrevivência infantil envolveu também a importância de se promover o cuidado amoroso e responsivo para assegurar o pleno desenvolvimento cognitivo, emocional e social das crianças.
UWB – Por que essa mudança se deu nos anos 1990?
Anna Chiesa – Porque tivemos várias descobertas das pesquisas e dos estudos da neurociência (que estuda o cérebro, o sistema nervoso e suas funcionalidades) e epigenética (que analisa o que impacta o desenvolvimento das pessoas, como o meio em que vive, a cultura etc.). Eles apontam que, nesse período, também chamado de “janelas de oportunidades”, o bebê até três anos tem potência para realizar um milhão de sinapses neuronais (que ligam os neurônios no cérebro para que ele funcione plenamente) por segundo e até os seis anos a criança já tem 90% do seu potencial cerebral desenvolvido.
UWB – Ou seja, é uma fase única que, se perdida, não volta mais na mesma potência, não é?
Anna Chiesa – Exatamente. Portanto, no Dia Mundial da Saúde, vale lembrar que investir na promoção do desenvolvimento infantil é construir uma sociedade mais justa, com maior igualdade de oportunidades.
A United Way Brasil tem como um de seus campos de atuação a primeira infância, justamente por entender que essa faz é essencial à vida presente e futura de todos os indivíduos. Por isso, implementa o programa Crescer Aprendendo em territórios mais vulneráveis, apoiando as famílias com conhecimento e práticas sobre os primeiros anos de vida para que possam contribuir ativamente ao pleno desenvolvimento de suas crianças.
Desde 2017, o programa benficiou mais de 2 mil famílas de cerca de 15 CEIs/EMEIs.