O painel do segundo dia do Fórum apresentou diferentes formas de financiar o impacto coletivo. Representantes de instituições que gerenciam fundos e modelos inovadores para a otimização de recursos compartilharam desafios e oportunidades para potencializar iniciativas sociais colaborativas. O painel compõe o evento realizado em setembro, pela United Way Brasil, em aliança estratégica com Collective Impact Fórum, Aspen Institute, Global Opportunity Youth Network (GOYN) e Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife). Apoio de disseminação de conhecimento do Instituto Sabin e cooperação da FEMSA e OEI.
Natália Leme, responsável por parcerias e programas da Fundação Arymax, mediou o painel sobre financiamento de iniciativas colaborativas, que contou com a participação de Greta Salvi (diretora Brasil da Latimpacto), Marco Gorini (cofundador do Grupo Din4mo) e Leonardo Letelier (fundador e CEO da Sitawi Finanças do Bem).
Durante o diálogo, a mesa explicou as diferentes formas de financiamento e a relação com o conceito de um novo capitalismo que adota o posicionamento empresarial com foca na geração de valor para todas as partes envolvidas (colaboradores, clientes, fornecedores, acionistas, comunidades e meio ambiente). “O setor filantrópico também tem discutido outros modelos de atuação, horizontais e participativos, envolvendo todos os interessados”, explicou a mediadora.
Com o surgimento da Covid-19 e seus reflexos negativos nas áreas econômica e social, o terceiro setor se viu diante de um desafio que exigiu rapidez e magnitude das ações, potencializando a criação de redes de colaboração entre diferentes atores, construindo relações de confiança entre executores e investidores.
IMPACTO SOCIOAMBIENTAL PARA TODA LATAM
Com relação à causa do meio ambiente, por exemplo, a Latimpacto se estruturou há um ano e meio, unindo organizações de setores e países diferentes para gerar impacto socioambiental com o objetivo de romper fronteiras setoriais e regionais. Fazem parte da rede os provedores de capital (fundações, institutos, consultorias, universidades, poder público e mercado financeiro), contando, atualmente, com cerca de 100 membros. O trabalho dessa rede tem como base o conceito de venture philantropy, recentemente implementado na América Latina, que une o olhar mais profundo (da filantropia) com a visão estratégica (do mercado financeiro) sobre os desafios socioambientais.
“A venture philantropy se ancora em três pilares: o financiamento personalizado, que é o entendimento sobre a organização a ser apoiada (em que estágio está, de que precisa, se é uma doação ou um empréstimo, que impacto ela gera) e o investidor que a apoia, para equalizar recursos e ações. O segundo pilar é o apoio não financeiro, complementar ao primeiro, para organizações em estágio inicial. Por fim, a gestão e medição, para apoios de longo prazo, para identificar o nível de impacto causado pela ação da organização”, explicou Greta.
FOCO NA AGENDA 2030
Para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), a Dyn4mo tem trabalhado para mobilizar capital que acelere o financiamento e cubra o gap de 3,5 trilhões de dólares anuais necessários para financiar a agenda de 2030. “É o desafio da alocação de recursos. Temos de discutir a cultura das priorizações e colocar o impacto como valor. O blended (a combinação de diferentes atores) é uma das ferramentas para avançarmos nessa discussão. Não sairemos do lugar usando as mesmas práticas, por isso, além da inovação, precisamos de seis posturas que podem mudar o jogo: persistência, paciência, convergência, resiliência, coerência e consistência”, definiu Marco, da Dyn4mo, que complementou: “Ou a gente senta, como sociedade, para compor com todos os atores a fim de que priorizem a agenda 2030 – e o blended entra aí como uma possibilidade dentre tantas – ou não vamos conseguir atingir os ODS.” Para ele, um ator é essencial nessa mobilização: as plataformas de investimento coletivo, que podem mexer o ponteiro no ponto de vista da cultura e da colaboração para repensar as prioridades na hora de definir onde distribuir os recursos.
INVESTIMENTOS COM RETORNO
As organizações que promovem impacto coletivo, sejam elas com objetivo ou não de lucro, podem tomar e devolver capital se ele for ofertado de uma maneira articulada, pensando em prazo, taxas de juros, garantia e flexibilidades. Foi essa linha de pensamento que deu origem a Sitawi Finanças do Bem, que hoje faz o papel de mediador para organizar, estruturar e dar uma voz mais consolidada aos grupos que querem apresentar seus projetos para financiadores, por exemplo.
A Sitawi tem três áreas de atuação:
- A primeira se chama área de desenvolvimento de impacto, que começou com empréstimos para as organizações sociais focadas em gerar impacto socioambiental, e depois migrou para uma plataforma de empréstimo coletivo, retornando aos investidores seu capital, com juros.
- A segunda é uma área de gestão de fundos filantrópicos para viabilizar iniciativas sociais que nascem de doadores, de movimentos e coletivos que, por exemplo, não possuem CNPJ para receber o capital.
- Por fim, atuamos com o desenho e a implementação de programas de desenvolvimento territorial, captando recursos para suas causas, como acontece com um projeto na Amazônia”, explicou Leonardo.
O painel abriu um leque de possibilidades e confirmou a necessidade de se valorizar fundos, plataformas e captações de recursos coletivos que possam responder rapidamente a iniciativas que tragam respostas eficientes a problemas complexos.
Assista ao painel, na íntegra:
DURANTE TODO FÓRUM BRASILEIRO DE IMPACTO COLABORATIVO, OS PARTICIPANTES FORAM CONVIDADOS A COLABORAR E COMPARTILHAR SUAS REFLEXÕES SOBRE OS TEMAS ABORDADOS NOS PAINÉIS. DURANTE A EXPLANAÇÃO DAS TRÊS LIDERANÇAS FEMININAS, ESTAS FORAM AS PRINCIPAIS EXPRESSÕES REGISTRADAS NO JAMBOARD:
- Fundos filantrópicos ganham relevância quando temos coletivos de ambos os lados
- Medição de impacto é superimportante para acompanhar o sucesso do investimento
- O diálogo deve permanecer ao longo de todo o processo para garantir valor para todos os envolvidos
- Todo o ambiente influencia os mecanismos: regras, cultura, mecanismos, estabilidade política etc.
- Não é falta de mecanismo, de investimento, mas, sim, a cultura vigente. Precisamos repensar as variáveis de investimento, onde o impacto passa a ter um valor muito maior