O primeiro painel do segundo dia do Fórum apresentou o movimento Global Opportunity Youth Network (GOYN), que atua pela inclusão produtiva das juventudes em territórios vulneráveis, usando o impacto coletivo como estratégia. Representantes de algumas cidades onde o programa acontece compartilharam aprendizados sobre as vivências e os avanços da atuação em rede, nas suas realidades. O evento foi realizado em setembro, pela United Way Brasil, em aliança estratégica com Collective Impact Fórum, Aspen Institute, Global Opportunity Youth Network (GOYN) e Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife). Apoio de disseminação de conhecimento do Instituto Sabin e cooperação da FEMSA e OEI.
O painel, mediado por Jamie McAuliffe, diretor do Aspen Institute, reuniu Daniela Saraiva, líder do GOYN SP (Brasil), ao lado da jovem-potência Ana Inêz; Camilo Carreño, diretor do GOYN Bogotá (Colômbia), que estava com o jovem-potência Jorge; e Mahmoud Noor, liderança do GOYN Mombasa (Quênia), com a jovem-potência Amina.
Jamie iniciou o diálogo, apresentando o GOYN, uma iniciativa global do Aspen Institute, criado, inicialmente, para atender as necessidades de empregabilidade de jovens dos Estados Unidos. As experiências bem-sucedidas estão sendo compartilhadas com outras cidades de países diversos, com o propósito de apoiar, globalmente, as diferentes juventudes para que possam construir uma carreira profissional bem-sucedida, quebrando ciclos de pobreza.
O GOYN não inventou a roda, como bem lembrou Jamie: “Já existem grupos e instituições, promovendo apoio aos jovens. O que pretendemos é criar um ecossistema mais coeso, reunindo todos os atores em uma rede de colaboração: governo, empresas, organizações sociais, jovens… Assim, ampliamos as chances de sucesso e de avançar mais rapidamente nessa agenda, de uma forma coordenada.”
Outra característica do movimento internacional, que utiliza a metodologia do impacto coletivo, é a atuação local. “Acreditamos, por exemplo, que as empresas dos territórios podem gerar empregos para os jovens das comunidades onde estão inseridas, respeitando maneiras de ser e necessidades de cada região”, reforçou Jamie.
Jamie McAuliffe, do Aspen Institute, na imagem acima
Na imagem: Daniela Saraiva, Líder do GOYN SP, acima e Ana Inês, jovem-potência do GOYN SP, abaixo
Daniela Saraiva, liderança do GOYN SP, conta que a iniciativa deu seus primeiros passos no Brasil seguindo as premissas do movimento global. “Construímos uma coalizão de vontades e de pessoas próximas que têm interesse pela causa e pela estrutura do trabalho colaborativo”. Hoje, o GOYN SP reúne mais de 80 instituições que atuam, coletivamente, para gerar oportunidades que, até 2030, promovam a inclusão no mercado de trabalho de 100 mil jovens das periferias da maior cidade do País.
A implementação em São Paulo, articulada pela United Way Brasil, demandou algumas ações prioritárias, como a mobilização e o fortalecimento das relações de confiança entre empresas e instituições de diferentes áreas e a realização de pesquisas e estudos sobre o cenário das juventudes, mapeando oportunidades e desafios, para se pensar em soluções baseadas em evidências. Outra questão essencial foi garantir que o jovem esteja, de fato, no centro das iniciativas, não só como sujeito delas, mas como coparticipante na tomada de decisões, exercendo a liderança ativa.
“A gente chegou nas reuniões on-line e ficou lado a lado com representantes do governo, das empresas, com pessoas com as quais a gente nunca teve contato. Nos debates e nas conversas, a gente colocava nossas dores. As empresas e instituições compartilhavam as delas. Essa troca teve um grande valor, porque tínhamos uma visão estratégica mais ampla, olhando para as diferentes pontas desse ecossistema. Existem muitas ações que atuam pela empregabilidade, empreendedorismo e renda dos jovens, mas a maioria não parte dessa escuta. Não ouve o que o jovem pensa sobre elas”, revelou Ana Inês, jovem-potência.
Camilo Carreño, diretor do GOYN Bogotá (Colômbia), contou que, a princípio, o estudo para mapear os territórios demonstrou, em uma mesma região, que os problemas eram heterogêneos, inspirando a estruturação de uma agenda e, mais tarde, a implementação de iniciativas setoriais para realizá-la. “Assim, conseguimos integrar diferentes leituras sobre o mercado de trabalho e compreender quais eram os setores que precisavam ser trabalhados para garantir a empregabilidade das juventudes.”, explicou.
Em Bogotá, os jovens foram ouvidos e, a partir dessa escuta, as ações foram desenhadas coletivamente. Com o advento da pandemia e suas consequências, com base em pesquisas, percebeu-se que era importante incentivar os jovens, especialmente as mulheres, a terem uma presença mais ativa na área da construção, pensando na retomada econômica pós crise sanitária. O próximo passo foi vencer estereótipos e preconceitos sobre mulheres nesse ramo de trabalho – tanto junto ao mercado como entre as próprias juventudes.
Na imagem: acima, Camilo Carreño, do GOYN Bogotá | à esquerda, Jorge, jovem-potência do GOYN Bogotá | à direita, Jamie McAuliffe, do Aspen Institute
Os dados têm servido, para o GOYN Bogotá, não só com o objetivo de traçar cenários, mas, sobretudo, para monitorar indicadores e avaliar resultados, de forma sistêmica.
Para Jorge, jovem-potência que vive na capital do País, “o GOYN Bogotá levou para a agenda pública a discussão sobre preconceito e machismo que impedem as mulheres de exercerem profissões em espaço comumente ocupados pelos homens. O Projeto Mulheres na Construção é muito forte e inovador, porque tem trabalhado a inclusão das jovens nesse nicho da produtividade, envolvendo diferentes áreas.”
A realidade da violência armada e de crimes, que atinge a cidade, acaba sendo um limitador para que as juventudes se sintam aceitas no ecossistema produtivo, já que o preconceito sobre sua origem acaba por afastá-los das oportunidades de trabalho e estudo, nos territórios adjacentes. As políticas públicas, até então, pouco tratavam das necessidades dos jovens, no entanto, como contou Mahmoud, liderança do GOYN Mombasa, por influência do movimento e dos diálogos com o governo, a Constituição passou a garantir uma porcentagem do PIB para ações voltadas à formação e empregabilidade dos jovens.
“Para fortalecer a rede de organizações e empresas que atuam pela inclusão produtiva das juventudes, nós criamos o Conselho de Jovens, com cerca de 50 representantes dos condados de Mombasa. Trazemos pessoas do governo e das empresas para estar nesse conselho multissetorial e discutir com os jovens as ações necessárias”, contou Mohamoud.
A ideia é empoderar as juventudes para que se posicionem diante das questões que as afetam, apoiando-as com mentorias e diálogos para que se apropriem dos recursos que têm para avançar nos seus propósitos coletivos de inclusão.
Amina, jovem-potência de Mombasa, contou que o Conselho busca influenciar políticas públicas e garantir direitos dos jovens. “Nós chamamos os jovens para que façam parte a fim de que, juntos, a gente mude o sistema. Uma de nossas conquistas foi ajudar a definir a distribuição do orçamento público nos condados. A gente se senta com adultos e idosos e discute, juntos, o que fazer pelo território”.
Jamie McAuliffe, do Aspen Institute, acima
| Amina, do GOYN Mombasa, à esquerda | Mahmoud Noor, do GOYN Mombasa, à direita
DURANTE TODO O FÓRUM BRASILEIRO DE IMPACTO COLABORATIVO, OS PARTICIPANTES FORAM CONVIDADOS A COMPARTILHAR SUAS REFLEXÕES SOBRE OS TEMAS ABORDADOS NOS PAINÉIS. DURANTE A EXPLANAÇÃO DO GOYN, ESTAS FORAM AS PRINCIPAIS EXPRESSÕES REGISTRADAS NO JAMBOARD:
- Jovem no centro como parte do processo
- As juventudes devem participar desde o início da elaboração e execução de ações pela sua inclusão produtiva e social
- A confiança e a transparência entre diferentes instituições nutrem o impacto coletivo
- O impacto coletivo traz coesão ao ecossistema para soluções a partir da comunidade local
- É importante trazer os aspectos positivos das juventudes, uma outra visão sobre os jovens