Até 2019, as juventudes eram o maior grupo da população brasileira. O “bônus” demográfico histórico será desperdiçado se não nos ocuparmos agora com a pauta da inclusão produtiva de jovens. Não olhar para esse tema significa comprometer o desenvolvimento social e econômico do País nos próximos 30 anos, quando os idosos é que serão maioria.
As empresas têm papel fundamental nesse contexto. Elas podem – e devem – pensar em políticas de recrutamento, contratação e permanência que incluam, especialmente, as juventudes periféricas. Por quê? Porque são elas que estão, neste momento complexo de pós-pandemia, mais desorientadas e desalentadas com relação ao presente e futuro: 1 em cada 4 jovens gostaria de trabalhar, mas deixou de procurar emprego. Quase metade das 50 milhões de pessoas entre 15 e 29 anos deseja deixar o país por não ver perspectivas (Mapa das Juventudes, 2021).
Faltam educação de qualidade e experiência profissional a grande parte desses jovens, é fato. Mas não faltam a motivação, o desejo de aprender, de se desenvolver e contribuir para o fortalecimento de marcas e negócios. “Quando uma empresa contrata jovens, ela não está só dando um salário e benefícios, mas oferecendo uma oportunidade de transformação, especialmente quando essa contratação está atrelada a uma jornada de formação”, comentou Lucas Gregório, jovem de 20 anos. Ele é contratado pelo GOYN SP para atuar coletivamente na formatação de ações e iniciativas que o programa vem realizando para incluir produtivamente, até 2030, 100 mil jovens-potência da cidade de São Paulo. Sua fala compôs a mesa de diálogo sobre “ESG e Juventudes” promovida pela Fiesp, em agosto.
Mas o que juventudes têm a ver com ESG?
Embora à primeira vista essa conexão não seja tão clara, ao aprofundar a pauta percebemos que a causa dos jovens é uma alavanca potente para a promoção da agenda ESG (Environmental, Social and Governance). Empregar e manter as juventudes em postos dignos de trabalho significa fortalecer a inclusão e a diversidade, o respeito aos direitos humanos, promover o engajamento dos funcionários, o relacionamento com a comunidade, aspectos prioritários do S (Social). Além disso, os jovens estão entre os mais informados sobre os padrões ambientais, sociais e de governança dentro e fora das empresas, tendo consciência dos impactos desses padrões nas gerações futuras (aspectos relacionados ao E e G). Contratá-los – e ouvi-los – significa meio caminho andado para fomentar os assuntos relacionados à agenda nas diferentes equipes. Os jovens podem se tornar, também, porta-vozes do tema. Bom para os jovens, ótimo para a sociedade e excelente para as empresas, afinal, segundo a última pesquisa de Sustentabilidade da Anbima, 85,4% dos gestores de investimentos do País usam os critérios ESG para tomar decisões sobre onde aplicar seus recursos.
Uma jornada com começo, meio e sem fim
Como disse Daniela Saraiva, líder do GOYN SP, também no evento da Fiesp, “jovens não vão chegar automaticamente às empresas. Eles e elas enfrentam obstáculos gigantes como o racismo estrutural e a falta de uma educação de qualidade. É por isso que as corporações precisam desenhar uma jornada para essas juventudes.” A jornada deve começar com novos processos de seleção e contratação que valorizem e priorizem as competências socioemocionais no lugar da formação acadêmica e experiência profissional.
Programas como Jovem Aprendiz são oportunidades de dar início à construção dessa jornada que envolve, também, a permanência e o desenvolvimento de carreira. Ou seja, eles e elas vão precisar do acolhimento das equipes (e estas terão de ser preparadas para isso), de mentorias realizadas por gestores e colegas mais velhos da empresa (programas de voluntariado podem dar conta dessa demanda essencial), formação dentro e fora da empresa para superar gaps do ensino formal e do conhecimento técnico, acesso a feedbacks constantes e avaliações 360 para definir o que está bom e o que precisa melhorar e um plano de carreira, desenhado a quatro mãos, que sirva não só como estímulo aos jovens, mas responda às necessidades da empresa.
“Quando o jovem tem acesso a essa jornada, não é só ele que se transforma. Sua comunidade e a sociedade ganham com isso”, lembra o jovem Lucas. E é verdade. As desigualdades sociais e os ciclos de pobreza podem diminuir com jovens-potência empregados. O desenvolvimento local também, já que a empregabilidade das juventudes tende a evitar prejuízos de até 1,5% do PIB dos países.
“Somos foguetes e foguetes não dão ré. Só vão para frente e para as estrelas, conquistar sonhos.” Lucas Gregório, 20 anos, jovem-potência do GOYN SP |
Por que é importante ouvir os jovens?
Dar voz aos jovens é planejar com mais assertividade as ações de uma política que, de fato, inclua todos e todas no ecossistema produtivo. Mas esse lugar de fala não deve se limitar ao mundo do trabalho. A escuta precisa ser de toda a sociedade. Excluir as juventudes e negar seu protagonismo nos diferentes escopos sociais acaba por nos impedir de ter acesso ao novo, ao diverso e às soluções que, de fato, podem resolver problemas simples e complexos.
“Juventudes são múltiplas, diferentes e as divergências constroem a síntese”, pontuou Tony Marlon, educador e comunicador popular, membro do Conselho Deliberativo da United Way Brasil. Sua fala se somou a muitas outras durante a edição do Café GOYN SP, em agosto, cujo tema era justamente a importância de ouvir o jovem e ampliar a sua participação social, o que inclui, também, a atuação nas organizações que trabalham pela causa das juventudes.
“O protagonismo da juventude é transversal. Como se fosse um Ministério que tem de estar em todos os setores. Precisamos fazer check points para ver se o que está sendo feito responde às necessidades e escutas dos e das jovens”, complementou Tony.
Durante a plenária do Café, alguns aspectos trazidos pelos participantes reforçaram a importância dessa escuta qualificada para que possamos, como sociedade, acolher as juventudes, especialmente as que se encontram em situação de vulnerabilidade, para que deem a sua contribuição ao desenvolvimento sustentável do País.
Levar jovens para o centro das organizações sociais foi um dos temas do diálogo. Muitas vezes eles não participam das decisões que irão afetá-los. Além de se chegar a ações pouco eficientes, essa postura acaba por enfraquecer o exercício da cidadania e a participação social das juventudes. Também é essencial que se abram espaços para uma escuta ativa tanto do setor privado como do público com o objetivo de direcionar ações e políticas públicas para atenderem as necessidades jovens.
A plateia que participou do Café também reconheceu que essa causa é uma pauta que precisa envolver todos e todas, inclusive juventudes privilegiadas, de estratos sociais com maior renda, para que também possam trazer ideias e soluções que compactuem com os desafios estruturais enfrentados pelos jovens periféricos, na educação, no trabalho e na participação política e social.
Para saber mais e se engajar Junte-se a nós e abrace a causa das juventudes: ofuturoejovem@uwb.org.br Navegue no estudo “Empresas potentes: boas práticas na inclusão de jovens-potência”, realizado pela United Way Brasil e Accenture, para se inspirar em jornadas implementadas por empresas e conferir os resultados dessa iniciativa: https://uwb.org.br/wp-content/uploads/2021/08/goyn-boas-praticas-na-inclusao-de-jovens-potencia.pdf Conheça o GOYN SP: https://uwb.org.br/o-que-fazemos/goyn/ |