No último dia 28 de abril, pais, mães e responsáveis por crianças pequenas, beneficiários do Programa Crescer Aprendendo Digital, participaram da live “Desafios familiares em tempo de crise”, realizada pela United Way Brasil em parceria com a FEMSA e apoio institucional da Plan International.
Mediados por Sofia Rebehy, coordenadora do programa de primeira infância, Crescer Aprendendo, os especialistas convidados dialogaram sobre os sentimentos de pais e cuidadores diante das incertezas de uma fase híbrida que começa a se configurar na vida das pessoas, intercalando situações de restrição com o retorno a algumas atividades presenciais.
Flávio Debique, Gerente Nacional de Programas da Plan Iternational; Vera Iaconelli, psicanalista e escritora; Ana Paula Ferreira, pedagoga e moderadora no grupo de Mães Pretas Presentes; e Luciano Ramos, consultor sênior e gestor do Coletivo Pais Pretos Presentes trouxeram diferentes visões sobre os desafios enfrentados pelas famílias em situação de vulnerabilidade, nestes tempos complexos.
“A pandemia trouxe muitas questões para a nós, principalmente para as mulheres pretas, da periferia, que chefiam suas casas. Para os pais também. Muitos perderam o trabalho. Muitas mulheres do nosso coletivo são mães solo e às vezes não têm uma rede de apoio”, ressalta Ana Paula, evidenciando a importância de coletivos e de ações que promovam o apoio às famílias: “Nosso coletivo oferece acolhimento, escuta ativa, para que essas mulheres tenham uma saúde mental, para que se sintam apoiadas para continuar o trabalho. Com o fechamento das escolas, muitas mulheres perderam a maior rede de apoio que tinham. E o que a gente traz de positivo do coletivo? Esse aquilombamento entre as mulheres, que faz com que as situações difíceis fiquem mais fáceis”.
Para os homens e pais, as questões também são complexas e exigem mudanças. “Quando a gente fala das masculinidades e paternidades a gente está falando de um modelo rígido, construído através do machismo que diz que o homem precisa prover. Muitos desses homens perderam seus postos de trabalho. Muitos trabalhavam informalmente e perderam também seus lugares de atuação, ficando mais tempo em casa. A gente ouve muitos homens trazendo situações complexas, entrando em depressão, dizendo não saber se encontrar dentro do ambiente familiar. Não é à toa que durante a pandemia cresceu o número de violência doméstica. O Coletivo Pais Pretos Presentes tem tentado atuar com ajuda financeira e com apoio psicológico”, comentou Luciano, reforçando a importância da rede para fortalecer as famílias e as relações que estabelecem nos seus lares.
Para Flávio, é preciso garantir esse apoio e usar também os equipamentos públicos. “Não temos soluções fáceis, mas acho que quando a gente se junta, seja virtualmente, seja na vizinhança, nos instrumentos e equipamentos comunitários, pode ser que algumas coisas fiquem menos pesadas. Procurem na sua vizinhança, nos grupos de WhatsApp. Pode ser que igrejas e organizações estejam realizando ações, os próprios CRAS e CREAS. Então, verifique no seu entorno aonde você pode buscar ajuda”.
A importância do autocuidado
Manter a saúde mental diante de tudo que se apresenta nesta fase é outro desafio para adultos que cuidam das crianças. Para Flávio, o autocuidado é essencial na manutenção do equilíbrio saudável das relações familiares: “Tudo isso vai passar, é um período difícil, mas a gente aponta para o futuro com esperança. Parece uma bobagem, mas tirar um momento do dia para tomar sol, tomar muita água, respirar muito bem faz a diferença. Eu sempre digo que a melhor solução para os nossos problemas é a respiração. Em um momento de muita tensão, quando todo mundo já foi dormir, sentar um pouquinho, respirar tranquilamente. Quando você está fazendo isso, pensar no quanto você é importante, o quanto você tem de poder e o quanto você está conseguindo enfrentar tudo isso”, reforçou.
“Nenhum de nós está muito bem nesse momento. Quem está bem não sabe o que está acontecendo. Então é necessário a gente acolher as nossas tristezas e angústias, pois tentar lidar com isso sozinhos, a gente não consegue. Pedir ajuda é necessário”, ponderou Luciano.
Para Vera Iaconelli, manter a sanidade e o equilíbrio também passa pelo reconhecimento do sofrimento que estamos vivenciando: “É importante você poder falar sobre o seu sofrimento de uma forma que você também se escute. Que você reconheça o seu lugar porque muitas vezes a gente sofre e acha que a vida é assim mesmo. Então faz parte desse processo a gente olhar para os nossos filhos e tentar mostrar para eles que a nossa condição nem sempre revela quem nós somos e que, mais do que nunca, nessas redes comunitárias é que a gente vai mostrando e reconhecendo o valor das pessoas”.
O papel de cada um é de todos
Com a pandemia, os papeis da maternidade e paternidade foram colocados em xeque. As mulheres se viram mais sobrecarregadas e os homens, como já dito, sem saber bem como integrar uma dinâmica familiar diferente. Para Vera, “os pais têm sido vistos como provedores materiais historicamente. Mas as mães são provedoras de trabalhos domésticos, são provedoras de trabalho também. Hoje a gente já sabe que isso está invertido. Tem mais mulheres administrando as famílias do que os homens. Está na hora de mudar o rumo dessa conversa e as pessoas pensarem que em uma família tem vários provedores de várias coisas e às vezes a coisa se alterna. As vezes um está trabalhando fora e outro não. As vezes os dois estão trabalhando ‘dentro’. E a gente mostra isso para as crianças. Isso pode ser um valor: bem-vindo ao século 21, isso é um valor para meninos e meninas. Os nossos filhos precisam ser criados para uma outra geração em que homens e mulheres possam fazer de tudo”.
Clique aqui e assista a live na íntegra para conferir outras dicas e reflexões trazidas pelos especialistas: https://www.youtube.com/watch?v=4liw8ccWwIg
Live aborda como trabalhar inseguranças de pais e mães nestes tempos difíceis
No último dia 28 de abril, pais, mães e responsáveis por crianças pequenas, beneficiários do Programa Crescer Aprendendo Digital, participaram da live “Desafios familiares em tempo de crise”, realizada pela United Way Brasil em parceria com a FEMSA e apoio institucional da Plan International.
Mediados por Sofia Rebehy, coordenadora do programa de primeira infância, Crescer Aprendendo, os especialistas convidados dialogaram sobre os sentimentos de pais e cuidadores diante das incertezas de uma fase híbrida que começa a se configurar na vida das pessoas, intercalando situações de restrição com o retorno a algumas atividades presenciais.
Flávio Debique, Gerente Nacional de Programas da Plan Iternational; Vera Iaconelli, psicanalista e escritora; Ana Paula Ferreira, pedagoga e moderadora no grupo de Mães Pretas Presentes; e Luciano Ramos, consultor sênior e gestor do Coletivo Pais Pretos Presentes trouxeram diferentes visões sobre os desafios enfrentados pelas famílias em situação de vulnerabilidade, nestes tempos complexos.
“A pandemia trouxe muitas questões para a nós, principalmente para as mulheres pretas, da periferia, que chefiam suas casas. Para os pais também. Muitos perderam o trabalho. Muitas mulheres do nosso coletivo são mães solo e às vezes não têm uma rede de apoio”, ressalta Ana Paula, evidenciando a importância de coletivos e de ações que promovam o apoio às famílias: “Nosso coletivo oferece acolhimento, escuta ativa, para que essas mulheres tenham uma saúde mental, para que se sintam apoiadas para continuar o trabalho. Com o fechamento das escolas, muitas mulheres perderam a maior rede de apoio que tinham. E o que a gente traz de positivo do coletivo? Esse aquilombamento entre as mulheres, que faz com que as situações difíceis fiquem mais fáceis”.
Para os homens e pais, as questões também são complexas e exigem mudanças. “Quando a gente fala das masculinidades e paternidades a gente está falando de um modelo rígido, construído através do machismo que diz que o homem precisa prover. Muitos desses homens perderam seus postos de trabalho. Muitos trabalhavam informalmente e perderam também seus lugares de atuação, ficando mais tempo em casa. A gente ouve muitos homens trazendo situações complexas, entrando em depressão, dizendo não saber se encontrar dentro do ambiente familiar. Não é à toa que durante a pandemia cresceu o número de violência doméstica. O Coletivo Pais Pretos Presentes tem tentado atuar com ajuda financeira e com apoio psicológico”, comentou Luciano, reforçando a importância da rede para fortalecer as famílias e as relações que estabelecem nos seus lares.
Para Flávio, é preciso garantir esse apoio e usar também os equipamentos públicos. “Não temos soluções fáceis, mas acho que quando a gente se junta, seja virtualmente, seja na vizinhança, nos instrumentos e equipamentos comunitários, pode ser que algumas coisas fiquem menos pesadas. Procurem na sua vizinhança, nos grupos de WhatsApp. Pode ser que igrejas e organizações estejam realizando ações, os próprios CRAS e CREAS. Então, verifique no seu entorno aonde você pode buscar ajuda”.
A importância do autocuidado
Manter a saúde mental diante de tudo que se apresenta nesta fase é outro desafio para adultos que cuidam das crianças. Para Flávio, o autocuidado é essencial na manutenção do equilíbrio saudável das relações familiares: “Tudo isso vai passar, é um período difícil, mas a gente aponta para o futuro com esperança. Parece uma bobagem, mas tirar um momento do dia para tomar sol, tomar muita água, respirar muito bem faz a diferença. Eu sempre digo que a melhor solução para os nossos problemas é a respiração. Em um momento de muita tensão, quando todo mundo já foi dormir, sentar um pouquinho, respirar tranquilamente. Quando você está fazendo isso, pensar no quanto você é importante, o quanto você tem de poder e o quanto você está conseguindo enfrentar tudo isso”, reforçou.
“Nenhum de nós está muito bem nesse momento. Quem está bem não sabe o que está acontecendo. Então é necessário a gente acolher as nossas tristezas e angústias, pois tentar lidar com isso sozinhos, a gente não consegue. Pedir ajuda é necessário”, ponderou Luciano.
Para Vera Iaconelli, manter a sanidade e o equilíbrio também passa pelo reconhecimento do sofrimento que estamos vivenciando: “É importante você poder falar sobre o seu sofrimento de uma forma que você também se escute. Que você reconheça o seu lugar porque muitas vezes a gente sofre e acha que a vida é assim mesmo. Então faz parte desse processo a gente olhar para os nossos filhos e tentar mostrar para eles que a nossa condição nem sempre revela quem nós somos e que, mais do que nunca, nessas redes comunitárias é que a gente vai mostrando e reconhecendo o valor das pessoas”.
O papel de cada um é de todos
Com a pandemia, os papeis da maternidade e paternidade foram colocados em xeque. As mulheres se viram mais sobrecarregadas e os homens, como já dito, sem saber bem como integrar uma dinâmica familiar diferente. Para Vera, “os pais têm sido vistos como provedores materiais historicamente. Mas as mães são provedoras de trabalhos domésticos, são provedoras de trabalho também. Hoje a gente já sabe que isso está invertido. Tem mais mulheres administrando as famílias do que os homens. Está na hora de mudar o rumo dessa conversa e as pessoas pensarem que em uma família tem vários provedores de várias coisas e às vezes a coisa se alterna. As vezes um está trabalhando fora e outro não. As vezes os dois estão trabalhando ‘dentro’. E a gente mostra isso para as crianças. Isso pode ser um valor: bem-vindo ao século 21, isso é um valor para meninos e meninas. Os nossos filhos precisam ser criados para uma outra geração em que homens e mulheres possam fazer de tudo”.
Clique aqui e assista a live na íntegra para conferir outras dicas e reflexões trazidas pelos especialistas: https://www.youtube.com/watch?v=4liw8ccWwIg