Iniciativa da United Way Brasil, em parceria com empresas associadas e parceiras, o programa tem como objetivo promover o desenvolvimento de jovens negros e negras em situação de vulnerabilidade para que construam seus projetos de vida e possam ocupar espaços na sociedade e no mundo do trabalho.
O racismo estrutural é um desafio que precisa ser enfrentado para que possamos avançar como sociedade e combater as desigualdades. No mundo do trabalho, o problema tem se tornado pauta das políticas das corporações, para incluir negros e negras nas equipes, mas ainda é preciso fazer muito mais.
Diante do boom demográfico, em que os jovens ainda são maioria – e a pirâmide etária começa a se inverter, com progressivo envelhecimento da população brasileira –, outro desafio se une ao primeiro e vencê-los é prioridade se quisermos construir uma nova história, que passa pela inclusão da juventude negra no ecossistema produtivo.
No entanto, um cenário, que já era crítico, foi agravado a partir de 2020, com a pandemia gerada pela Covi-19, afetando a oferta de trabalho. Os índices de desemprego entre os grupos de 14 a 17 anos e de 18 a 24 anos, de 42,8% e 29,7%, respectivamente, foram os maiores dentre as demais faixas da população (IBGE, 2020). No contexto geral, a taxa de desemprego entre os brancos ficou em 9,8%, bem abaixo das pessoas pardas (14%) e pretas (15,2%). Os motivos que levam a esse desnível, além da crise, são a baixa escolaridade, a falta de conectividade e o preconceito, obstáculos enfrentados pelas camadas mais pobres que, por sua vez, são formadas por uma maioria negra.
Portanto, para que jovens negros e negras possam ocupar seus espaços, são necessárias políticas públicas que garantam educação e trabalho de qualidade. Também é essencial que o setor privado assuma o seu compromisso com essa causa e, por meio de seus Recurso Humanos (RHs) e comitês de diversidade, promova a entrada e permanência das juventudes negras em suas corporações. O papel do programa Competências para a Vida é justamente apoiar essa inclusão, preparando, de um lado, os jovens para as demandas das empresas aliadas aos seus sonhos e propósitos. Do outro, estimulando os colaboradores das companhias para que sejam mentores voluntários desses novos talentos, apoiando-os na sua caminhada pessoal e profissional, um passo importante na busca pela diversidade nas corporações.
Letramento racial, a formação necessária
Com os crescentes movimentos sociais para combater o racismo estrutural, a United Way Brasil assumiu o compromisso de realizar ações intencionais com o objetivo de debater, enfrentar e desenhar soluções para a inclusão de jovens negros e negras no mercado de trabalho. O Competências para a Vida é uma delas. Por isso, em 2021, tem realizado parcerias com organizações, consultores e especialistas que são referência no tema. Uma delas é a jornalista e consultora em gênero e raça, Kelly Quirino, que atualmente é professora da disciplina Comunicação e Diversidade e Epistemologias Negras, na Universidade de Brasília, que está apoiando nas formações dos atores envolvidos no Competências para a Vida.
O programa conta com uma coordenação, um grupo de facilitadores e os mentores que se encontram virtualmente com os jovens durante o período de capacitação. “Começamos pelos colaboradores das empresas, que se voluntariaram para serem mentores dos jovens, e os formadores do programa. Falamos sobre uma questão que, às vezes, é confusa para os brancos. Muitos não querem opinar sobre racismo porque acham que esse lugar de fala não lhes pertence. Mas não é assim. Todos e todas precisam debater o tema. Ficar em silêncio, porque é branco, mantém a estrutura do jeito que está, ou seja, excludente. É importante falar e, também, ouvir, considerar e privilegiar a voz dos negros e negras nesse diálogo, porque eles sentem na pele o preconceito”, explica Kelly. Ela gostou da conversa que teve com os mentores porque pode conhecer as diferentes ações das corporações onde trabalham, relacionadas ao enfrentamento do racismo estrutural. “O que percebemos é a importância de oferecer aos funcionários oportunidades de letramento sobre racismo para que entendam o que é, já que muitas coisas estão enraizadas e naturalizadas”, reforçou.
Kelly Quirino é doutora em Comunicação pela Universidade de Brasília (UnB), Mestre em Comunicação Midiática e Bacharel em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Fez doutorado-sanduíche na Tulane University (EUA) como pesquisadora visitante financiada pela Capes. Na área de Educação, atuou como tutora do Curso de Especialização em Políticas Públicas de Gênero e Raça na Faculdade de Educação da UnB. |
O Competências para a Vida, com o apoio da consultora, criou um acervo virtual com indicações de leitura e de filmes sobre a temática para orientar mentores e formadores no entendimento de como o preconceito afeta a vida pessoal e produtiva das juventudes negras. “Na conversa com os mentores, ressaltei que eles têm total condição de dar aos jovens negros e negras exemplos pessoais de como vencer obstáculos, no entanto, é importante que ampliem seus olhares, considerando realidades como pobreza, racismo e violência”, ressaltou Kelly. Ela lembra que essa juventude já passou por muita coisa e se chegou até o Competências para a Vida é porque venceu inúmeras dificuldades. Por isso, é essencial mostrar a esse jovem que seu sonho é possível e que ele possui meios para conquistar seus objetivos. “Não existe meritocracia para essas juventudes. A lógica aqui é outra”, defendeu Kelly. Para ela também cabe aos mentores ajudarem os jovens a acessar informações e oportunidades, afinal, a grande maioria vive em condições de vulnerabilidade. A conectividade e o uso qualificado da tecnologia são realidades distantes.
A consciência de ser negro e negra nesse contexto
A formação com a temática começou este ano, no segundo semestre, para um grupo de 320 jovens. “Temos trabalhado o que é o racismo, porque, muitos deles, não têm essa consciência. Então, partimos das suas experiências e aí as situações vão aparecendo. O objetivo é instrumentalizá-los para que possam entender e enfrentar o preconceito que sofrem”, explicou Kelly. “Daí vale usar a charge, o texto, um podcast ou um filme para a partir do exemplo, ajudar o jovem a entender o conceito e a teoria”, complementa.
Parte da capacitação realizada com mentores.
Vários estudos indicam o impacto negativo do preconceito racial na identidade e na autoestima dos jovens. O Competências para a Vida tem a proposta de fortalecer esses dois aspectos, apoiando os participantes do programa no desenvolvimento de competências socioemocionais e no acesso a ferramentas que os ajudem a ocupar espaços dos quais, historicamente, os negros foram sempre excluídos. “Os jovens do programa precisam entender que a questão do racismo é coletiva e que precisa ser enfrentada como tal. Que construir uma carreira, conquistar um bom emprego é um direito”, reforçou a consultora.
Com a proposta de trazer o racismo estrutural como tema de formação dos colaboradores e dos jovens, o programa Competências para a Vida pretende intervir positivamente na vida desses atores e, também, fomentar a diversidade nas empresas, a partir de um processo colaborativo que une diferentes pontas para promover a inclusão produtiva das juventudes. Por isso, se sua empresa ainda não vestiu a camisa da diversidade e do combate ao preconceito racial, a hora é agora! Começar pelos jovens é uma maneira de plantar mudanças estruturais no presente e futuro de nossa sociedade.
Clique no link e saiba mais sobre o programa Competências para a Vida: https://uwb.org.br/o-que-fazemos/nossos-programas/competencias-para-a-vida/