O Atlas das Juventudes sistematiza e dissemina diferentes dados para pautar ações e políticas públicas que otimizem e promovam o potencial dos jovens na construção de um futuro mais inclusivo e próspero para a sociedade. O GOYN SP é parceiro da iniciativa, contribuiu com dados sobre juventudes na cidade de São Paulo e marcou presença no festival de lançamento.
De 9 a 12 de junho aconteceu o Festival Atlas das Juventudes, uma realização das organizações Em Movimento e Pacto das Juventudes pelos ODS, com o apoio do GOYN SP, movimento articulado pela United Way Brasil em São Paulo, e diferentes organizações sociais voltadas à causa.
O evento contou com debates, oficinas e atrações culturais e artísticas protagonizados por jovens de gêneros, raças e territórios distintos, ressaltando a diversidade das juventudes brasileiras.
A iniciativa marcou o lançamento do Atlas, disponibilizado para todos e todas que trabalham questões relacionadas às juventudes no Brasil.
No dia 11, o Núcleo Jovem do GOYN SP coordenou a oficina “Trabalho e habilidades socioemocionais” para apresentar aos participantes uma ferramenta de apoio aos jovens nos processos de recrutamento profissional.
Na introdução da oficina, Jonathan Carvalho, Carla Francischette e Gabriel Gonçalves, do Núcleo Jovem, apontaram as principais dificuldades enfrentadas pelos mais de 700 jovens-potência das periferias de São Paulo, na busca por postos dignos de trabalho. Os desafios estão relacionados a questões ligadas ao racismo estrutural, à evasão escolar, à crise laboral e à lacuna digital (saiba mais, acessando o painel “Desafios e oportunidades para a inclusão produtiva dos jovens-potência da cidade de São Paulo”).
Também destacaram como um grande obstáculo os processos de recrutamento das corporações: “Dentre as 500 maiores empresas do Brasil, apenas 35% diversificam a forma de contratação”, ressaltou Gabriel.
Para ele, e demais participantes da oficina, os tradicionais métodos usados pelas áreas de Recursos Humanos (RHs) não contemplam a realidade dos jovens periféricos, suas habilidades e seus potenciais. “Os currículos não dizem quem somos e acabamos em desvantagem quando comparados com jovens que fizeram faculdade X, curso Y, intercâmbio…”. Pâmela Regina, recém-chegada ao GOYN SP, concorda: “Os currículos tradicionais muitas vezes nos colocam como se não fôssemos capazes de nada!”
Na segunda parte da oficina, os jovens apresentaram o Card Jovem, elaborado pelo Núcleo Jovem, com base em um ou mais indicadores, disponíveis on-line, como o MBTI, um teste baseado nas competências socioemocionais do indivíduo. A partir de um questionário, o programa define com qual perfil a pessoa se identifica. “É um método que não leva em consideração as competências técnicas, mas, sim, quem você é de verdade”, reforça Gabriel.
A ideia é que os jovens utilizem os cards para se apresentarem às empresas, evidenciando seus valores, propósitos, motivações e vivências. Os participantes da oficina tiveram acesso ao link para montá-los e aprovaram a ideia como uma nova maneira de as empresas ampliarem o foco sobre as contribuições das juventudes para o desenvolvimento de suas equipes.
Inclusão produtiva em debate
Na noite do dia 11, o Global Opportunity Youth Network de São Paulo (GOYN SP) participou da mesa “Inclusão Produtiva das Juventudes”, ao lado de representantes da Fundação Arymax, do Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável (Cieds) e do Corporativos para Pretos, mediados pela jovem Yasmim Vieira.
A conversa trouxe importantes reflexões sobre o que significa promover a inclusão produtiva das juventudes, especialmente no atual contexto da realidade brasileira, fortemente marcada pelos impactos da pandemia.
Matheus Magalhães (Fundação Arymax), definiu a inclusão produtiva como “a inserção da população pobre ou em situação de vulnerabilidade para a geração de trabalho e renda de maneira mais estável e relativamente duradoura, a fim de superar as situações crônicas de exclusão social de determinada época”. Ou seja, a inclusão produtiva responde a um contexto social e vai se modificando a partir da realidade.
No entanto, para que os jovens sejam inseridos no ecossistema produtivo outros fatores merecem atenção, porque são determinantes para que a inclusão aconteça com qualidade. “Não adianta falar: ‘empresa, crie vagas e empregue os jovens que estão fora do mercado’. A gente precisa pensar em políticas públicas de outras áreas como educação, mobilidade, garantia de acesso ao primeiro emprego, apoio aos jovens que querem empreender e maneiras de ajudá-los a desenvolver suas competências e habilidades. A questão é como a gente aproxima poder público, setor privado, organizações da sociedade civil e, principalmente, as juventudes para buscar soluções a essas situações”, pondera Rafael Biazão (do Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável – Cieds).
A educação é, com certeza, uma questão crítica que precisa ser resolvida no contexto da inclusão produtiva. Para Wel Alves (GOYN SP), os dados traduzem o problema: “Cada jovem evadido da escola, no Brasil, custa 372 mil de reais por ano à sociedade. Só em São Paulo, onde o GOYN atua, temos mais de 700 mil jovens em situação vulnerável. Se incluirmos produtivamente essa população, podemos somar até 0,3% do PIB da cidade. Temos de pensar qual é de fato o desperdício financeiro se não trabalharmos políticas intersetoriais e sistêmicas.”
Nathália Arruda (Corporativo para Pretos) ressalta a importância das empresas nesse contexto: “Jovens estão sendo excluídos por conta de requisitos e vagas irreais. A gente está excluindo pensares plurais, de realidades diferentes. É importante que o setor privado entenda que não é apenas uma questão de políticas públicas, mas de analisar como está excluindo os jovens e o que pode fazer, junto aos agentes locais, com soluções. Pensar que os jovens não vêm de um mesmo lugar, por isso, não podem ser avaliados da mesma forma.”
O olhar focado nas periferias foi outro ponto importante, levantado pelo Wel (GOYN SP): “A maior parte das juventudes é formada por negros, negras e mulheres, que vivem nas bordas das cidades e dos centros urbanos. Então, já que a gente sabe que inclusão produtiva não ocorre somente por meio do emprego, e estamos num país que vive em crise, a questão é como potencializar iniciativas empreendedoras da periferia para a periferia. Tem todo um ecossistema de sustentação da periferia que precisa ser estimulado. Políticas que vão nesse sentido são super importantes, inclusive ações de investimento na infraestrutura e na conectividade. Além disso, também é importante impulsionar o acesso digital e utilizar dados para pensar em como pautar soluções que sejam mais sistêmicas e mais certeiras na inclusão dos jovens desses territórios.”
Confira o debate da mesa “Inclusão Produtiva das Juventudes” na íntegra: https://www.youtube.com/watch?v=Rqc-sBL9ze8