Live sobre volta às aulas traz dicas e orientações para pais e responsáveis

No dia 26 de março, a United Way Brasil deu início à série de lives de 2021 do programa Crescer Aprendendo, trazendo à discussão o tema retorno à escola, quando as restrições da pandemia forem abrandadas. Confira.

O tema é polêmico e divide opiniões. No debate organizado pela United Way Brasil, em parceria com a FEMSA e apoio do Instituto Alana, o pediatra Daniel Becker, a educadora Raquel Franzim e a gestora de escola e pedagoga Joice Araújo debateram o tema junto a uma plateia formada por famílias do programa Crescer Aprendendo, parceiros e interessados na temática.

Fundador do movimento Lugar de Criança é na Escola, doutor Daniel alertou que a maioria dos países elaborou um plano para a retomada das aulas, com base no que a ciência trazia sobre o pouco contágio entre crianças: “Quando chegou em outubro, novembro, eu me dei conta de que muitas escolas particulares estavam abertas, com as crianças já frequentando, todas felizes, as famílias aliviadíssimas porque podiam trabalhar. As crianças efetivamente melhoravam de todos os sintomas psíquicos que estavam apresentando, porque esse é um lugar muito importante para elas. Mas, ninguém estava falando da escola pública. Me dei conta de que 40 milhões de crianças estavam fora da escola e ninguém falava sobre isso”. E complementou: “Ao longo do ano foram feitos inúmeros estudos e a ciência demonstra que a criança transmite pouco e os surtos domiciliares e escolares quase nunca são iniciados pela criança – menos de 8%. Estar com crianças é fator de proteção e não algo mais arriscado. Escola aberta não aumenta transmissão, escola fechada também não diminui a transmissão, então a pandemia não vai piorar se a gente abrir as escolas e não vai melhorar se a gente as fechar. Esse é o mote fundamental que a gente está propondo agora: a escola é a primeira a reabrir e a última a fechar.”

Raquel Franzim, coordenadora da educação do Instituto Alana, concordou com o alerta de Daniel e pontuou a negligência dessa não priorização, prevista na constituição brasileira: “No Instituto Alana a gente faz uma defesa muito explícita do artigo 227 da Constituição Federal que coloca crianças e adolescentes como prioridade absoluta do planejamento, do orçamento de todas as ações do Estado, da sociedade e da família. Isso, como o Dr. Daniel mesmo disse, infelizmente não partiu de uma coordenação nacional política como se deu em outros países. O trabalho dos estados e dos municípios ficou sobrecarregado, muitas vezes sem as condições necessárias, cada um indo para um canto para cumprir com uma crise multidimensional. A crise na educação não é só de origem e de atenção sanitária, ela também é de proteção social, de desenvolvimento integral das crianças, de pobreza de aprendizagem e que a gente precisa falar sobre isso. Muito tempo com escolas fechadas deixam crianças que já vinham enfrentando desigualdades educativas muito severas com ainda maior risco de evasão, abandono escolar e pobreza”, alertou.

O retorno na prática

No dia a dia da sala de aula, Joice Araújo, gestora de escola de educação infantil, contou como foi a experiência da reabertura, em fevereiro de 2021: “A gente começou um pouco com receio, com medo, mas a gente foi amparado pelo protocolo. A gente entende que a educação infantil é o contato, é o experimentar e, apesar do protocolo, ficamos preocupados com isso. Como seria esse desenvolver da criança no contato, no interagir com o colega, se neste momento não ia poder acontecer isso? Se cada criança tinha de ficar no seu quadradinho, não poderia ter contato com o brinquedo do colega, não ia poder dividir, as áreas do brincar e do desenvolver seriam restritas? Então, para nós, o primeiro ponto preocupante na educação, além de toda essa questão pandêmica era isso: a gente vai receber as crianças, mas de que maneira isso afetará o cognitivo delas, de que maneira vamos conseguir atender a necessidade desse desenvolvimento amplo de que elas precisam?”

O importante para os debatedores é que as famílias tenham consciência de todo o contexto e tomem decisões mais embasadas. Por isso, Joice recomenda que, na hora da retomada, os pais e responsáveis conheçam as condições da escola: “Vá na escola do seu filho e identifique se têm profissionais para garantir toda essa segurança diante dos protocolos, verifica se têm profissionais experientes, bem direcionados e treinados para que atendam esses protocolos. Numa breve olhada, o pai, a mãe, a avó, o cuidador conseguem identificar, não precisa de muito”.

Raquel concorda e faz um alerta: “Se vocês, pai e mãe, vivem em uma comunidade escolar onde participam das decisões, onde recebem não só informes, mas a escola vem conversando com vocês ao longo desse período todo, talvez isso os deixe mais seguros por saber qual é a realidade da escola dos seus filhos. Agora, o que não dá é: ‘eu não participo da realidade do meu filho e eu exijo’. Lembrando que educação é uma atividade essencial, mas ela é um direito social partilhado entre estado, família e sociedade, então a nossa cobrança por condições precisa vir acompanhada por uma intensa participação social: a minha comunidade está participando dos protocolos de segurança? Todo mundo está usando máscara, todo mundo está tendo acesso a água?”

Sobre questões práticas, do cotidiano da escola, que precisam ser observadas quando a rotina retornar, Daniel Becker aponta a importância da ventilação das salas de aulas (“janelas sempre abertas!”), uso das áreas externas (“o ser humano precisa de ar livre, do convívio com a natureza, céu aberto”) e salas com turmas menores (“dividir as crianças em pequenos grupos e esses grupos serem fixos para diminuir o risco da transmissão”).

Para saber mais e ter acesso a outras orientações e dicas, assista à live na íntegra: https://www.youtube.com/watch?v=ai5WR8PAFZ4&t=8s