Iniciativa que ajuda os jovens a organizar o presente e projetar seus sonhos de futuro, a mentoria é um recurso utilizado no Programa Competências para a Vida. Confira o que pensam mentor e mentorados sobre essa experiência.
Antes da pandemia revolucionar nosso cotidiano, os jovens do Programa Competências para a Vida participavam de formações presenciais e mentorias a distância, para construírem novas visões sobre si, sobre o outro e seus projetos de vida pessoal e profissional. O isolamento social demandou novas estratégias para que essas práticas pudessem ter continuidade, mesmo que a distância. Por isso, a mentoria on-line foi adotada como meio único de propiciar momentos de formação tão essenciais a esse público.
Nas sessões, os jovens mentorados foram convidados a definir objetivos para si. Depois, com o apoio do mentor, elaboraram um plano de ação com iniciativas que pudessem levá-los a conquistar tais objetivos. Por fim, cada um escreveu uma carta ao futuro, deixando uma mensagem de como quer se ver daqui a cinco anos.
Esse trabalho conjunto, entre jovens e mentores, traz descobertas para ambos os lados. Compartilhar incertezas e perceber que, apesar de tudo, é possível chegar aonde se quer, traz um novo “gás” aos jovens que têm muito a contribuir para mudar realidades. Do outro lado, os mentores, profissionais voluntários das empresas parceiras do programa, são levados a rever sua história e se dar conta do quanto avançaram. Além disso, por servirem a uma causa, identificam-se com a garra e a força dos mentorados, fortalecendo a esperança em tempos melhores.
Respeitar o tempo para chegar aonde se quer
Antônio Donizete Evangelista de Souza trabalha na Lilly e é mentor voluntário do Programa Competências para a Vida há três anos. Ele participou da formatação original do programa, com sessões presenciais e on-line, e agora atua na versão a distância.
Nas conversas, ele parte de sua história pessoal e profissional para integrar o grupo. Para Donizete, mostrar aos mentorados semelhanças nas trajetórias de suas vidas favorece o vínculo entre eles. “Um dos assuntos que reforço muito é a importância de não largar a escola e aproveitar o conhecimento para escalar desafios simples da vida, como dominar elementos de comunicação e oralidade. São estas competências que os ajudarão a interagir com outras pessoas”, acrescenta.
Antônio Donizete: “Buscamos ajudar
os jovens a não cometerem os mesmos
erros que nos assombraram em momentos
de vulnerabilidade”
Ele também conta que vivenciou um momento especial na mentoria: “Recebi uma carta do futuro, por e-mail, de uma jovem escolhida pelo programa aleatoriamente. Ela dizia que, em cinco anos, ia trabalhar para não ter a dor como sua companheira. Essa carta me emocionou muito, porque revisitei minha história e meus medos no passado. Por isso, na mentoria, buscamos ajudar os jovens a não cometerem os mesmos erros que nos assombraram em momentos de vulnerabilidade”, conclui.
Suelen Bento de Souza, 21 anos, de Sapopemba (SP), é mãe de Pietro Moisés, de 1 ano e 6 meses, e faz parte do grupo de jovens que participou das formações on-line.
“A mentoria ajudou a me conhecer mais, a ter uma nova visão sobre o futuro e a acreditar em mim. Quero me tornar uma liderança na minha comunidade e apoiar outros jovens para que tenham um trabalho, estudem e realizem seus projetos de vida”, conta a jovem.
Suelen, 21 anos: “Na mentoria aprendi
a respeitar o próprio tempo”
Para Suelen, a ansiedade característica do jovem muitas vezes acaba por gerar inseguranças sobre as próprias capacidades. Diante de dificuldades, essa incerteza tende a sabotar projetos. “Na mentoria aprendi a respeitar o próprio tempo. Com um filho pequeno, e agora mãe solo, não tenho como frequentar a faculdade. Então, vou fazer um curso técnico em química e, no momento certo, cursar a faculdade de Engenharia Química, que é meu sonho. Os mentores também passaram por muitas dificuldades e estão onde estão hoje. Então, eu também posso chegar aonde quero.”
A jovem mãe sabe que terá um caminho de lutas pela frente, mas não vai desistir: “O maior desafio a ser vencido na busca por um emprego é o preconceito. Se é mulher, não pode. Se é mãe, não pode. Se é negra, não pode. Se mora na periferia, não pode. Porque eu sei que consigo estudar, ter os diplomas e os recursos para me tornar uma boa profissional, mas meu perfil não condiz com o que as empresas procuram. A carta do futuro me ajudou a organizar as coisas. A separar o que é sonho e o que é fantasia”, define Suelen.
Wallerson Bassôto Rodrigues, 18 anos, de Mogi das Cruzes (SP), não acreditava em formações a distância. Para ele, era perda de tempo: “Como estava em casa sem fazer nada, decidi participar. Minha opinião mudou muito desde então. Com as pessoas certas é possível, sim, apender”. Ele acredita que as sessões caíram como uma luva: “Acabei o Ensino Médio e estou na fase de escolher qual faculdade fazer, de ter de trabalhar. Sentia-me inseguro, perdido. Mas percebi que o que estou vivendo é a realidade de muitos e conversar com outros jovens e com o mentor ajudou a entender como lidar com essas questões”.
Com a pandemia, Wallerson estava sem perspectivas, sem saber o que fazer com o tempo em casa, até ingressar no programa: “Foquei nas atividades propostas, como a carta do futuro. No curto prazo vou procurar trabalho. No médio prazo, quero cursar faculdade de Farmácia, para ter bastante conhecimento sobre química e, mais para frente, cursar a faculdade de Biologia, já com essa bagagem”, explica.
Wallerson, 18 anos: “Os mentores
são inspirações para nós”
Outra desconfiança, quando participou da primeira sessão, foi saber que os mentores eram jovens. O que teriam a ensinar com pouco tempo de trajetória profissional? “Novamente me enganei”, confessa e complementa: “Eles não só tinham muita experiência para compartilhar como também sabiam conversar com a gente e entendiam nossas questões, porque passaram recentemente pelo que estamos passando. Os mentores são inspirações para nós”.